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Itaipu, um "trabalho de Hércules", chega aos 40 anos
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16/05/2014

Em tupi-guarani, Itaipu quer dizer “a pedra que canta”. Era este o nome de uma ilhota, que permanecia quase todo o tempo escondida pelas águas, onde os técnicos verificaram que havia um rendimento energético excepcional, em virtude de um longo cânion escavado pelo Rio Paraná.

Em 1973, foi esse o ponto escolhido pelos engenheiros e técnicos que desenvolviam o projeto da nova usina. Depois de muitas análises feitas a bordo de um barco, eles tinham encontrado o local onde seria erguida a usina. O nome seria uma consequência dessa escolha.

No ano seguinte, com a chegada das primeiras máquinas ao canteiro de obras, começaria a ser construída a Itaipu Binacional. O passo decisivo para essa construção se deu exatamente há 40 anos, em 17 de maio de 1974, com a criação da empresa. Um “trabalho de Hércules”, na avaliação da revista “Popular Mechanics”, dos Estados Unidos, que em 1995 incluiu a usina entre as sete maravilhas mundiais da engenharia.

No segundo semestre de 1984, estava estruturado o acampamento pioneiro, com as primeiras edificações para escritórios, almoxarifado, refeitório, alojamento e posto de combustíveis, que existe até hoje. As estradas de terra de acesso ao canteiro de obras foram abertas.

“Formigueiro”

Pouco a pouco, a região começava a transformar-se num “formigueiro” humano. Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas margens para abrigar os homens que atuavam na obra. Foi necessário erguer até um hospital, o Madeirinha, que mais tarde se tornaria o Costa Cavalcanti.
 À época, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes. Em apenas dez anos, a população saltou para 101.447 habitantes.

No canteiro de obras, a primeira tarefa foi alterar o curso do Rio Paraná, removendo 55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha para escavar um desvio de dois quilômetros de extensão, 150 metros de largura e 90 metros de profundidade. Em 20 de outubro de 1975, as duas ensecadeiras que protegiam a construção do novo curso foram explodidas, liberando a entrada de água do Paraná. O novo canal permitiu que o trecho do leito original do rio fosse secado, para receber a barragem principal, em concreto.

A nova fase de construção da usina é a concretagem da barragem, que exigia mais e mais operários: entre 1978 e 1981, até 5 mil pessoas eram contratadas por mês. No pico das obras, Itaipu utilizou cerca de 40 mil trabalhadores no canteiro de obras e nos escritórios de apoio no Brasil e no Paraguai.

Na obra, o lançamento de concreto na barragem bateu um recorde sul-americano em 14 de novembro de 1978: 7.207 metros cúbicos, o equivalente a um prédio de dez andares a cada hora ou 24 edifícios num só dia. O total de concreto despejado na barragem - 12,3 milhões de metros cúbicos - seria suficiente para concretar quatro rodovias do porte da Transamazônica.  

Mais números gigantescos: em 1980, o transporte de materiais para a construção da usina mobilizou 20.113 caminhões e 6.648 vagões ferroviários.
Montagem

Com a concretagem quase pronta, a fase seguinte foi a montagem das unidades geradoras. O transporte de peças inteiras, dos fabricantes até a usina, era um grande um desafio.

A primeira roda da turbina, com 300 toneladas, saiu de São Paulo em 4 de dezembro de 1981 e chegou ao canteiro de obras somente em 3 de março de 1982. Como a rede viária e algumas pontes existentes nas várias alternativas de trajeto não tinham condições de suportar o peso, a carreta que levava a peça teve de percorrer o caminho mais longo, com 1.350 km. O transporte das rodas de turbina ganharia agilidade posteriormente. O recorde foi de 26 dias de viagem entre a fábrica e a usina.

As obras da barragem chegaram ao fim em outubro de 1982. Mas os trabalhos na Itaipu prosseguiram. O fechamento das comportas do canal de desvio, para a formação do reservatório da usina, deu início à operação Mymba Kuera (que em tupi-guarani quer dizer “pega-bicho”). A operação salvou a vida de 36.450 animais que viviam na área a ser inundada pelo lago.

Justamente na época do enchimento do reservatório, o Rio Paraná enfrentou uma enchente histórica. Em consequência, as correntezas do Rio Paraná, somadas às chuvas abundantes naquele período, levaram apenas 14 dias para encher o reservatório de 1.350 km², o sétimo maior do Brasil.

No dia 5 de novembro de 1982, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionaram o mecanismo que levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro e liberam a água represada do Rio Paraná. Assim, foi oficialmente inaugurada a maior hidrelétrica do mundo, após mais de 50 mil horas de trabalho.

Decisão

A entrada em operação da usina, prevista inicialmente para 1983 (atrasou apenas um ano), correu o risco de ser adiada indefinidamente. O Brasil, que na década anterior crescia celeremente, foi duramente atingido pela segunda crise do petróleo, a de 1979, que afugentou os investidores. Ninguém mais queria emprestar dinheiro, a não ser a juros astronômicos.

Apesar dessa situação difícil, o governo brasileiro decidiu que a produção deveria começar o mais depressa possível. Outras obras sofreriam atrasos ou poderiam parar, como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e o programa nuclear brasileiro, mas Itaipu, já com 85% das obras civis concluídas e com as demais obras com contratos que precisavam ser honrados, teria que prosseguir.

Na época, a maior hidrelétrica em operação no Brasil era Ilha Solteira, a montante do rio Paraná, na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso. Concluída em 1978, Ilha Solteira tinha 20 unidades geradoras e 3.444 MW de potência instalada, bem inferior aos 12.600 MW das 18 primeiras unidades projetadas para Itaipu (outras duas unidades foram instaladas em 2006 e 2007, ampliando a capacidade para os atuais 14 mil MW).

E a obra prosseguiu, mesmo que inicialmente o Brasil já não tivesse necessidade da energia que Itaipu iria gerar. O quadro mudaria radicalmente já em meados da década de 1990, quando Itaipu passou a produzir acima da energia garantida prevista no Tratado de Itaipu – 75 milhões de MWh.
Foram 77,2 milhões de MWh em 1995, 81,6 milhões de MWh em 1996 e assim sucessivamente – energia que o Brasil cada vez mais precisava. A usina rompeu a barreira dos 90 milhões de MWh em 1999, mas por muito pouco – foram 90.001.654 de MWh.

Construção

No dia 17 de maio de 1974, há exatos 40 anos, era constituída a empresa binacional Itaipu, para gerenciar a obra e, futuramente, administrar o empreendimento hidrelétrico.

Começaria ali a saga da construção de um megaempreendimento, que mobilizou milhares de pessoas e bilhões de dólares e transformou parte do Oeste paranaense e todo o Paraguai. Uma obra que gerou, obviamente, muitas polêmicas e dúvidas, mas que logo se confirmaria como essencial para o desenvolvimento dos dois países.

Negociação

Resultado de intensas negociações diplomáticas, Itaipu é também uma grande obra de engenharia política, financeira e jurídica, mesmo antes dos projetos começarem a sair do papel.

Um breve resumo do que representou Itaipu para os dois países:
Diplomacia: Permitiu a resolução pacífica de uma disputa de fronteiras entre Brasil e Paraguai.

Integração: A entidade binacional criada para construir a usina de Itaipu foi uma iniciativa precursora de integração entre países no continente sul-americano, sendo um dos exemplos que levaram à criação do Mercosul.

Infraestrutura: A construção da usina exigiu a implantação de estradas, ruas, escolas e hospitais nas duas margens, Brasil e Paraguai.

Economia: O pagamento de royalties pela geração de eletricidade representa aproximadamente US$ 230 milhões por ano a cada país. No Brasil, o montante repassado aos municípios vizinhos ao reservatório significa em média um aumento de 52% na arrecadação, beneficiando cerca de 600 mil pessoas.

Referência: A usina binacional hoje é referência não apenas na produção de energia elétrica, mas também no bom uso dos recursos naturais renováveis; destaca-se pelas políticas de direitos humanos, onde se incluem projetos sociais e a defesa da equidade de gênero e raça.

E é também referência no apoio ao desenvolvimento de energias alternativas, como o biogás, e no estímulo e incentivo ao ensino superior e à criação de novas tecnologias, para citar apenas alguns dos muitos aspectos positivos de Itaipu.

Usina dos recordes: muito além do que previa o projeto

Neste ano, mais precisamente no dia 5 de maio, a Itaipu completou 30 anos de geração. Outro marco na história da empresa. Entre 2003 e 2013, a usina de Itaipu produziu, em média, 91,3 milhões de megawatts-hora (MWh), volume muito superior à energia garantida, prevista no Tratado que deu origem à binacional: 75 milhões de MWh.

A produção de 2013 - 98.630.035 MWh - garantiu 17% de toda a energia elétrica consumida no Brasil e atendeu 75% da demanda paraguaia.
Mesmo com capacidade 60% superior, a usina chinesa de Três Gargantas – a maior do mundo, com 22.400 MW de potência contra os 14 mil MW de Itaipu – não superou o volume gerado pela binacional brasileiro-paraguaia em 2012 e em 2013.

O alto índice se explica principalmente pelo bom desempenho do Rio Paraná, que, graças às mais de 45 usinas a montante de Itaipu, mantém um fluxo de água superior a 8 mil metros cúbicos por segundo durante mais de 90% do tempo.

Mas há também outros fatores. Entre os mais importantes, estão o bom projeto da usina, a gestão técnica e administrativa eficiente e o perfeito entrosamento entre a área técnica de Itaipu e as empresas da cadeia de energia do Brasil e do Paraguai (Eletrobras, ONS, Ande, Copel e Furnas, Especialmente). Com destaque para os padrões de excelência na operação e na manutenção.

Total acumulado

Desde a entrada em operação efetiva da primeira unidade geradora, em 5 de maio de 1984 – nove anos depois do início das obras da usina -, Itaipu gerou um total acumulado de 2,16 bilhões de MWh, energia suficiente para abastecer o mundo inteiro por 38 dias.

O maior mercado consumidor de eletricidade do mundo, a China, poderia ser abastecido por 5 meses e 9 dias; os Estados Unidos, por 6 meses e 5 dias.
O mercado brasileiro, por sua vez, teria energia por 4 anos e 8 meses, enquanto seu parceiro no empreendimento, o Paraguai, seria atendido por nada menos que 176 anos e 9 meses.

Ainda mais

Embora detenha o recorde mundial de geração de energia, a área técnica de Itaipu ainda não está satisfeita. A meta, para os próximos anos, é atingir 100 milhões de MWh.

Para isso, segundo o diretor técnico executivo, Airton Dipp, será preciso garantir a “saúde” dos equipamentos, que operam ininterruptamente há 30 anos, com investimentos constantes na manutenção e, onde isso for possível, também na atualização tecnológica.