Autoridades brasileiras e espanholas ligadas à gestão da água se reuniram, nesta quarta-feira (24), durante conferência no Fórum Hispano-Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, em Madri, na Espanha. Intitulado “Os desafios e perspectivas na gestão da água”, o encontro teve a presença do diretor de Coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich. Ele apresentou a metodologia e os resultados do Programa Cultivando Água Boa.
A participação popular e a aplicação prática de diversos documentos planetários que baseiam o programa foram o que mais chamou a atenção dos participantes. “Gostei muito quando Nelton disse que não há mais a necessidade de novos acordos, tratados e leis internacionais. O precisamos é colocar esses princípios em prática”, afirmou Maurício Broinizi, secretário executivo do movimento Nossa São Paulo, que estava na plateia.
Dois países, um tema
O primeiro palestrante foi o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, que traçou um panorama sobre as diferenças entre Brasil e Espanha em matéria de recursos hídricos. Uma delas está na quantidade: o Brasil tem mais de 50 vezes a quantidade de água superficial que detém a Espanha. “Se puséssemos em linha reta o caudal de todos os rios brasileiros, seria possível dar 40 voltas ao mundo”, comparou.
Segundo Andreu, as principais questões da água nos próximos anos serão a expansão dos serviços de água e esgoto e a projeção do tema água nos fóruns internacionais, para que se possa chegar a um entendimento global para sua governabilidade. “A água será um dos temas centrais na próxima Cúpula da Terra (a Rio+20)”, assegurou.
Para Yves Besse, diretor-presidente da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), somente a parceria entre a iniciativa privada e o setor público pode fazer com que 100% dos domicílios brasileiros tenham água e esgoto tratados. “Mesmo assim, serão necessários uns 60 anos para atingir essa meta”, afirmou.
O espanhol Jesús Yagüe, da Diretoria Geral de Água do Ministério do Meio Ambiente, fez um resumo da história das leis que regem a gestão da água na Espanha. O país teve sua primeira lei de águas aprovada em 1879, enquanto, no Brasil, isso só viria a ocorrer nos anos 1990. “Temos um compromisso com a União Europeia de chegar a 2015 com uma melhoria significativa da qualidade da água no país, embora essa seja uma meta que deverá ser compatibilizada com as necessidades econômicas e ambientais do país”, disse.
Na Espanha
Assim como o Brasil, a Espanha tem uma distribuição desigual dos recursos hídricos. Dividida por uma cadeia de montanhas, que corta o país no eixo Leste-Oeste, o Norte tem muito mais água que o Sul. Além de ser uma oportunidade para conhecer as semelhanças e diferenças entre as condições dos recursos e os marcos regulatórios dos dois países, o encontro serviu para apontar a necessidade de aprofundar as discussões sobre o conceito de vazão ecológica, uma visão mais avançada sobre os rios.
Campanha
Os integrantes da delegação brasileira foram convidados pelo Greenpeace-Espanha a participar de uma campanha educativa voltada aos jovens. Eles tiraram fotos segurando um balão, como em uma história em quadrinhos. Nele, escreveram seus recados. Ainda na noite de quarta (24), a delegação brasileira foi recebida pelo embaixador Paulo César Oliveira, na sede da Embaixada do Brasil, em Madri.