Voluntários de Itaipu se unem a mutirão no Porto Meira

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Matheus Felipe Lima, 20 anos, estava na igreja, no Jardim São Paulo, quando a primeira pedra de gelo caiu sobre sua casa, no Porto Meira. Era noite de segunda-feira (7). A mãe de Matheus, Elenice Cristina, pegou as duas irmãs, de 2 e 5 anos, pelos braços e se protegeu sob o batente da porta. Ao chegar em casa, o rapaz encontrou o telhado que era uma peneira e todos os cômodos alagados.

A casa de Matheus é uma das 14.368 residências atingidas pelo vendaval seguido por chuva de granizo, na noite de segunda-feira, na região do Grande Porto Meira, além de bairros de Presidente Franco (PY) e Puerto Iguazu (AR). A tarefa de Matheus, na tarde ensolarada de terça-feira, era cobrir o telhado com a ajuda dos vizinhos. A de sua mãe, encarar uma fila quilométrica, ao lado de milhares de atingidos pelo temporal que foram buscar ajuda no Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente (Caic) do Porto Meira. No total, 56.873 sofreram com a chuva de granizo.

O nome de Elenice, assim como seu endereço e suas necessidades principais, estavam em uma ficha, nas mãos de Marcos Antonio Zandoná, empregado de Itaipu. Ele e outros 25 voluntários de Itaipu vestiram os coletes vermelhos do Programa Força Voluntária e foram fazer sua parte: digitalizar cada uma das fichas de cadastro das vítimas do temporal. Alguns ficaram lá até as duas horas da madrugada.

“Havia um gargalo no atendimento, entre as fichas que estavam sendo preenchidas e a entrega final dos donativos”, explicou Zandoná. O time do Força Voluntária é uma das engrenagens de uma complexa rede de voluntários, das mais variadas cores de uniformes e de instituições, que se reúne desde a manhã de terça-feira, no Caic do Porto Meira.

Frentes de trabalho

Antes de chegar às mãos dos voluntários de Itaipu, a ficha cadastral é preenchida pelos profissionais do Centro de Controle de Zoonoses, de Foz do Iguaçu, que foram convocados para fazer o atendimento inicial aos atingidos. Em outra frente, voluntários fazem a triagem das doações que chegam a todo momento em carros particulares e caminhões de empresas e órgãos públicos.

Na cozinha do Caic o movimento é intenso. O principal objetivo da cozinheira Ana Colle, 46, enquanto mexe com a colher o feijão da panela, é garantir o almoço e o jantar das milhares de pessoas que esperam com uma senha na mão do lado de fora. “O importante é ajudar quem precisa hoje”, disse Ana, secando o suor da testa com as costas da mão.

As panelas com frango, batata, mandioca, arroz, feijão, macarrão e carne encheram milhares de pratos na tarde de terça-feira. Próximo dali, o voluntário Ricardo Tadeu Cabral, diretor-geral da instituição filantrópica Esquadrão Caveira Brasil, carrega mais duas caixas de leite para o depósito. “Viemos em 25 voluntários para ajudar.”

As doações de cestas básicas encheram a despensa da cozinha. E vinham de todos os lados. “Meu filho deu o dinheirinho para eu comprar três caixas de leite”, disse, emocionado, o empresário Cezar da Silva, 50 anos, dono da HC Muebles, de Ciudad del Este, Paraguai. Ele atravessou a Ponte da Amizade com sua van cheia de donativos, para levar ao Porto Meira. “Sei que é pouco perto do estrago que foi, mas todo mundo tem que fazer a sua parte.”

Em outras salas do Caic, pilhas de colchões, cobertores e roupas já chegam ao teto. A advogada Marina Petkowicz, 25 anos, atenta à sua função, dobra mais uma calça e coloca na pilha certa. O objetivo é separar roupas masculinas, femininas e infantis em pilhas diferentes, além de descartar o que não serve para ser doado. “Fiquei sabendo que precisavam de ajuda e liguei para meu amigo, Marcelo, para vir pra cá”, contou.

Do lado de fora, políciais, guardas municipais e soldados do 34º Batalhão ajudam a coordenar o atendimento. O policial federal Habib Mikhael Ammari, 36 anos, pediu autorização da chefia, na noite de segunda-feira, para fazer os primeiros atendimentos: levar lona à região do Carimã. Na terça-feira, o efetivo de quase 30 policiais federais já estava no Porto Meira para dar sua ajuda. “Quando há uma aglomeração grande de gente podem acontecer alguns tumultos”, justificou Habib, com o megafone na mão, enquanto organiza a fila do almoço.

Casos reais

“Fiquei sabendo por uma amiga que me ligou no celular e disse ‘volta pra casa, que o Porto Meira está devastado’”, lembrou Matheus Lima. A mercearia do lado de sua casa havia comprado telhas novas e doou as antigas para a família de Matheus. Com a ajuda dos vizinhos, o jovem tapou os buracos das telhas com um adesivo e cobriu o telhado novamente.

Na rua de Matheus, não houve casa que não exibisse a lona preta, nesta terça-feira. O pescador Renato Bortolin, 37 anos, era ajudado pelo vizinho Osmar a consertar telhado. “Quando a chuva começou, eu fui fechar a janela da cozinha, as pedras eram tão grandes que quebraram a janela”, disse. Renato, então, levou a esposa Patrícia Chaves, 31 anos, e os filhos Renato Jr, 7, e Letícia Chaves, 12, para se proteger debaixo da mesa. “A gente ia pedir pizza aquela hora”, lembrou o pequeno Renato Jr. “Meu videogame queimou”, reclamou.

O forro da casa dos Bortolin não segurou a enxurrada de água que veio junto com o granizo. “Nem liguei ainda os eletrodomésticos, mas sei que queimou tudo: televisão, micro-ondas”, afirmou. A esposa, Patrícia, estava na fila do Caic para conseguir as telhas que cobririam novamente a casa.

“O único lugar que não molhou foi a cômoda onde estava a Bíblia”, contou o falante Renato Jr. “Quando a chuva começou, a gente rezou quatro vezes e ela foi embora”, resumiu o menino. A fé de Renatinho e o coração voluntário de tanta gente são o que melhor representa estas centenas de histórias que se encontram após a tragédia do Porto Meira.
 

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