Cerca de 60 pessoas participaram, na manhã dessa quarta-feira (6), de uma palestra on-line promovida pela Itaipu Binacional e Itaipu Parquetec sobre o tema “Quais são os primeiros indícios de violência doméstica? Saiba identificar os sinais”. A palestra foi ministrada pela psicóloga Carla Mores e fez parte das atividades da 5ª Semana da Diversidade.
Psicóloga Carla Mores. Foto: Reprodução.
Que mulher nunca ouviu comentários maldosos? Assumiu a culpa por algo? Ouviu críticas pelas suas roupas ou por sua forma de falar, pelas amizades ou caminhos de vida que escolheu? Foi com esses questionamentos que a psicóloga começou o bate-papo, trazendo essa reflexão para os participantes. Nem sempre esse tipo de atitude vem de um companheiro, mas também de seus pais, irmãos e até amigos. E isso tem nome: machismo.
Carla Mores explicou que existem diversas formas de expressão da violência: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. A violência está presente em momentos sutis do dia a dia, passando muitas vezes despercebida por quem sofre esse tipo de agressão. Em alguns casos, ainda que a mulher comece a perceber que determinados comportamentos são uma agressão, é muito difícil tomar uma atitude, pois muitas vezes há julgamentos, falta de apoio, insegurança, dificuldades financeiras. Tudo isso colabora para sua permanência num contexto de violência.
“Por que eu afirmo com tanta confiança que todas nós sofremos? Porque o machismo está dissolvido na nossa cultura, todos nós estamos nessa cultura e somos, de uma forma ou de outra, machistas” disse Carla Mores.
Segundo ela, a violência “invisível” está entranhada no sistema patriarcal da sociedade, que há mais de 2.500 anos vem se perpetuando ao longo das gerações. Um exemplo disso está nos afazeres domésticos: mais de 80% desse trabalho é realizado pelas mulheres. “Nós somos ensinadas a cuidar, a brincar de boneca, a cuidar do irmãozinho, do filho, da filha, do parente, do pai, da mãe, enquanto, por outro lado, os homens, na maioria das vezes, acabam mais liberados. Essa imagem da mulher doce e submissa, que coloca o marido em primeiro lugar não é algo natural. É um discurso que foi fabricado na modernidade por razões específicas, e somos ensinadas a nos enquadrarmos neste padrão”, afirmou a psicóloga.
“O estereótipo da feminilidade nos coloca em um lugar desprotegido. Nós renunciamos ao que é importante para nós, abrimos mão da nossa independência. Aos poucos, cedemos em nosso jeito de vestir, sobre os amigos que temos, sobre os lugares que frequentamos. Passamos a fazer escolhas baseadas no que os outros esperam de nós. A mulher aprende a perder sua liberdade, pelo simples fato de ser mulher”, concluiu.
Para a coordenadora do Comitê de Gênero, Raça, Diversidade e Inclusão da Itaipu, Jessica Maris da Rocha Maciel, “foi uma palestra de conteúdo muito rico, que nos fez questionar estruturas sociais que expõem as mulheres ao risco, os sinais de diversas violências como a psicológica e também os nossos papéis como homens e mulheres na hora de atuarmos como rede de apoio de potenciais vítimas. Foram transmitidas informações que deveriam ser de conhecimento de todas as pessoas, desde a educação em casa e até mesmo na formal”, afirmou.
Como romper o ciclo?
* Peça ajuda de alguém de confiança; se uma mulher pedir ajuda, apoie;
* Procure lugares de acolhimento, como o CRAM (Centro de Referência em Atendimento à Mulher em Situação de Violência), Serviços de Saúde, Patrulha Maria da Penha, Delegacia da Mulher, PM;
* Forme redes de apoio;
* Não critique outras mulheres e questione estereótipos de gênero;
* Tenha empatia, coloque-se no lugar do outro.
Interseccionalidade
Também na quarta-feira (6), como parte da programação da 5ª Semana da Diversidade, aconteceu o bate-papo on-line “O que é essa tal de interseccionalidade?” O tema foi trazido por Cleci da Cruz Martins, coordenadora executiva da Rede de Mulheres Negras do Paraná e servidora da secretaria municipal de educação de Araucária.
Cleci explicou que o termo interseccionalidade é usado para se referir a mulheres que sofrem opressão tanto por seu gênero, quanto pela sua raça. Ou seja, descreve formas de opressão que acontecem de maneira simultânea e estão interligadas; portanto, não adiantaria lutar contra uma, sem lutar contra outra.
A discussão de temas propostos na Semana da Diversidade está vinculada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de número 5 (Igualdade de Gênero) e 10 (Redução das Desigualdades). Saiba mais sobre os ODS em
www.itaipu.gov.br/responsabilidade-social/agenda-2030.