Cerca de 300 pessoas lotaram o auditório do Marco das Três Fronteiras, na tarde de ontem, para assistir ao início do ciclo de palestras com o teólogo Leonardo Boff, e com o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich. A platéia – formada na sua maioria por educadores de Foz do Iguaçu e região – foi apresentada a conceitos que elevam os diálogos sobre os cuidados com o meio ambiente ao patamar da ética. Tudo para, de acordo com os palestrantes, “mudar corações e mentes.”
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“A ética tem a ver com práticas humanas, que, atualmente, são altamente destrutivas ao ecossistema, e nos ajuda a ver qual o comportamento mais adequado diante disso tudo. Esse é o imperativo mais urgente hoje”, disse Leonardo Boff, antes de começar a palestra intitulada “A formação para a ética do cuidado com a Carta da Terra e o tratado cotidiano das pessoas”. |
A apresentação teve como suporte as idéias da Carta da Terra – espécie de declaração de princípios para a construção de uma sociedade global no século 21. A Carta, finalizada em 2000, foi criada por um comitê redator internacional do qual o teólogo fez parte.
Boff foi além do alerta sobre os perigos do aquecimento do planeta. Ele pregou uma mudança de comportamento, amparado na ética, que, além de proteger a Terra, a regenere e dê dignidade às pessoas, para que “todos possam viver harmoniosamente”. “Grande parte dos habitantes do planeta está excluída e passa fome. Nesse momento há 100 milhões de pessoas sofrendo com insuficiência alimentar e 1 bilhão com problemas relacionados à água potável”, afirmou.
Na platéia, multiplicadores
Antes de apresentar o painel “Mudanças climáticas: do local ao global”, Nelton Friedrich destacou a presença de Boff (autor de mais de 60 livros nas áreas de teologia e filosofia, entre outros), e a simbologia do local que serviu de cenário para o encontro – o encontro dos rios Iguaçu e Paraná, na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. O diretor defendeu a adoção de atitudes aparentemente pequenas, mas que, integradas, produzem efeitos em escala planetária. “O Brasil contribui hoje com 2,6% do aquecimento global. Portanto, cada brasileiro também tem parte nisso. O que você diariamente fizer na sua aldeia vai repercutir no mundo inteiro”, ressaltou.
Uma platéia muito especial acompanhou atentamente as explanações. “Contamos aqui com professores e diretores de escolas, ou seja, com aqueles que podem potencializar o processo multiplicador dessa visão”, afirmou Nelton Friedrich. O teólogo concordou. “Os educadores ajudam a criar uma consciência nova e multiplicadora, que vai suscitar nas pessoas o cuidado na relações com tudo o que fazem”, disse Boff.
O evento, promovido pelo Programa Cultivando Água Boa, contou ainda com a presença do prefeito de Medianeira e presidente do Conselho dos Município Lindeiros, Elias Carrer, e de dois secretários municipais de Foz do Iguaçu: André Alliana, do Meio Ambiente (que anunciou seu desligamento do cargo a partir de hoje) e de Joane Vilela, da Educação. O ciclo de palestras continua hoje, das 14h às 17 h, em Marechal Cândido Rondon, no auditório do Centro Cultural, e, no mesmo horário, termina amanhã, em Toledo, próximo ao lago municipal.