A Itaipu deu um grande passo para consolidar a sua posição de vanguarda nas pesquisas de energias renováveis no Brasil. É a conclusão e entrega, na última sexta-feira, do projeto de construção da Unidade Experimental de Produção de Hidrogênio, fruto da parceria iniciada há cinco anos entre a Itaipu e a Universidade de Campinas (Unicamp). A iniciativa já mobiliza diversos setores da usina e fará com que, a partir de 2009, a binacional tenha condições de transformar a água liberada em seu vertedouro em um combustível inovador e totalmente limpo: o hidrogênio. A unidade será construída na área localizada entre o mirante do vertedouro e o heliporto, na margem brasileira.
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O projeto foi idealizado pela Unicamp e já está nas mãos do gerente do Departamento de Obras e Manutenção (ODM.CD), Andreas Schwarz. De acordo com ele, o processo licitatório para a contratação das obras civis já está em andamento e, provavelmente a partir do começo do próximo ano, começará a sair do papel. |
A construção deve levar de nove a dez meses e conta com um orçamento estimado de R$ 1 milhão, sem considerar os gastos com equipamentos e o mobiliário. Serão 600 m² de área construída em um espaço cercado de 10 mil m². A obra será tão inovadora quanto o combustível que nela será produzido. “É algo sofisticado e inédito na construção civil brasileira”, ressalta Andreas Schwarz.
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Segundo o engenheiro eletricista Marcelo Miguel, da Divisão de Engenharia Eletromecânica (ENEE.DT), que desde 2003 participa das discussões sobre o projeto com o pessoal do Laboratório de Hidrogênio do Instituto de Física da Unicamp, a escolha do local foi muito criteriosa. “A área foi escolhida pela Diretoria de Coordenação e colocada no plano diretor porque é o espaço mais propício e estratégico para esse projeto”, ressalta. “O local fica perto da subestação de energia e do posto de abastecimento, onde se pode instalar um pequeno gasoduto para abastecer os veículos. É também uma área onde não se pode plantar, pois tem pedra embaixo”, complementa. |
A exemplo do Projeto Veículo Elétrico, a obtenção de hidrogênio por eletrólise (separação dos elementos da água por meio da energia elétrica) também vai contar com o trabalho conjunto de diversas áreas da Itaipu. Segundo Marcelo Miguel, desde o seminário realizado em 2003, que deu origem ao projeto, diretores e conselheiros brasileiros e paraguaios já estão mobilizados. “Por enquanto, a nossa área de engenharia está nesse momento envolvida mais diretamente por causa do projeto de construção, que começou com algumas pesquisas em 2005 e agora foi concluído”, justifica. “O próximo passo é a obra e depois a operação, quando o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), como o braço de pesquisa e desenvolvimento da empresa, deverá participar diretamente do projeto”, destaca.
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Embora existam outras unidades experimentais para a produção de hidrogênio no País, a de Itaipu, segundo Andreas Schwarz, servirá de modelo para futuras instalações do gênero. “Tendo em vista o seu ineditismo, o seu padrão construtivo, que exige uma atenção muito especial com a segurança, ainda não está normatizado”, explica. |
A unidade de Itaipu será a primeira a seguir à risca rigorosas normas de segurança. “Pelo fato de o hidrogênio ser altamente volátil e explosivo, as instalações elétricas serão blindadas, todos os materiais terão a máxima resistência ao fogo e na área cercada não haverá vegetação por causa do risco de incêndio, entre outros”, exemplifica o gerente.
Dinheiro, reconhecimento e sustentabilidade
A repercussão do projeto está sendo rápida e faz com pesquisadores internacionais já voltem os olhos para o nova empreitada da Itaipu. Na tarde de segunda-feira, um dos pioneiros nas pesquisas sobre energias renováveis nos Estados Unidos esteve na usina. O professor de estudos climáticos, geográficos e energéticos da Montclair State University, Rolf Sternberg, de 81 anos, acompanhado de sua esposa, Frances Sternberg, foi conhecer melhor aquilo que, para ele, “pode ser extremamente útil para reduzir a dependência do Brasil de outras fontes de energia e ajudar a limpar o planeta das emissões de carbono.”
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O professor está viajando pela América do Sul para conhecer iniciativas eficientes para a produção de energia renovável. Conduzido por Marcelo Miguel na Itaipu, Rolf Sternberg ficou impressionado com a água que jorrava do vertedouro. “Tudo isso poderia ser transformado em hidrogênio, o que traria dinheiro e reconhecimento para a Itaipu e o Brasil”, ressalta o professor norte-americano. |