Setor elétrico começa um novo ciclo em 2010

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As usinas hidrelétricas com obras em andamento, projetadas ou em estudos somam um potencial de aproximadamente 35 mil megawatts (MW), o equivalente a duas Itaipus e meia, anunciou nesta quinta-feira o presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz Lopes, na primeira palestra do ano do Programa de Desenvolvimento Gerencial.

 

A palestra foi no Auditório do Treinamento, com transmissão por videoconferência para Curitiba e Brasília, e teve dois assuntos como tema: “Os projetos de expansão do parque gerador nacional e o novo perfil da Eletrobrás”.

 

O novo ciclo

 

Segundo o presidente da Eletrobrás, o setor elétrico brasileiro dá início a um novo ciclo em 2010, quando serão concluídas as primeiras usinas hidrelétricas que fazem parte do plano de expansão. O setor elétrico conta hoje com 103.033 MW instalados, dos quais 75,2% correspondem a usinas hidrelétricas, 22,3% a térmicas, 2% a nucleares e 0,4% a eólicas. O Sistema Eletrobrás detém 39.402 MW deste total, incluindo a metade de Itaipu. O Sistema Eletrobrás também tem 56% do total das linhas de transmissão do Brasil, número que deve ser ampliado brevemente.

 

“Sujeira” necessária

 

O aumento na participação de térmicas – antes de 2001, quando houve um colapso do setor elétrico, as hidrelétricas respondiam por 95% da produção de eletricidade -, segundo o presidente da Eletrobrás, foi a única alternativa para evitar que o Brasil entrasse em colapso. “Os críticos dizem que nós sujamos a matriz energética brasileira e é preciso concordar que isso aconteceu. Mas por quê? Porque não tínhamos outra alternativa. É melhor ter energia produzida com óleo combustível do que não ter”, argumentou José Antônio Muniz Lopes.

 

Elétricas e nucleares

 

Com o novo ciclo do setor elétrico, as hidrelétricas voltam a ser prioridade. As usinas em obras, com projetos em andamento e em estudos totalizam uma capacidade instalada de quase 35 mil MW. Mas o plano de expansão também prevê o aumento na participação das nucleares: além dos 1.350 MW de Angra 3, que deve ser concluída no final de 2014, o governo estuda a construção de duas centrais nucleares no Nordeste, com seis usinas cada uma, e de duas outras centrais semelhantes no Sudeste. Cada central terá capacidade equivalente a meia Itaipu. As quatro centrais, portanto, equivalerão à capacidade instalada de duas usinas de Itaipu. Mas, se tudo correr como o previsto, as obras só terão início a partir da década de 20.

 

Em detalhes

 

O presidente da Eletrobrás detalhou cada hidrelétrica em construção, em projeto ou em estudos no País. A seguir, um pequeno resumo.

 

Obras em andamento

 

Batalha: 52 MW, conclusão prevista para maio de 2011
Simplício: 333,7 MW, conclusão em swetembro de 2010
Chapecó: 855 MW, para agosto de 2010
Serra do Facão: 210 MW, para outubro de 2010
Retiro Baixo: 82 MW, para janeiro de 2010
Baguari: 140 MW, para setembro de 2009 (a única neste ano).

 

Grandes usinas

 

Santo Antônio: 3.150 MW, previsão para 2011
Jirau: “Uma das prinicipais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, destacou José Antônio Muniz Lopes – 3.300 MW, ainda sem previsão do início das obras, porque o projeto sofreu modificações.
Belo Monte: 11.300 MW, sem previsão de início das obras (leia mais detalhes abaixo)
Maribá: 2.160 MW. A concessão deve ser dada no ano que vem.

 

Obras do futuro 

 

Serra Quebrada – 1.328 MW, Santa Isabel – 1.080 MW e as cinco usinas do Complexo Tapajós, que vão totalizar 10.692 MW. Como curiosidade, o vídeo que mostra o projeto destas usinas apresenta uma das soluções encontradas para minorar os problemas ambientais – um canal para os peixes transporem a barragem e poderem procriar a montante da usina. Imagens do Canal de Piracema de Itaipu foram usadas para mostrar como será este canal no Complexo Tapajós.

 

Belo Monte

 

O presidente da Eletrobrás dedicou bom tempo de sua palestra para falar da usina de Belo Monte, que ele chamou de “a bola da vez”, porque o leilão de concessão está previsto para o segundo semestre deste ano.

 

O projeto para Belo Monte, de 1980, foi todo modificado, para reduzir o impacto ambiental. O reservatório, que seria de 1.200 quilômetros quadrados, agora passará a ter 480 quilômetros quadrados. A usina, por decisão do governo, será a única do Rio Xingu. E, apesar disso, será a fio d’água, como Itaipu, isto é, aproveitará a água do rio, sem contar com grande reserva. Mesmo assim, a produção média anula prevista é de mais de 44 milhões de megawatts-hora (MW), quase a metade do que Itaipu produz.

 

Muniz Lopes explicou que o rio tem uma grande vazão no primeiro semestre do ano, justamente quando as usinas do restante do País estão utilizando suas reservas. A entrada de Belo Monte no sistema permitirá que os reservatórios dessas hidrelétricas mantenham um volume suficiente para enfrentar o período mais seco. Além disso, se for concretizado o plano de integração do sistema elétrico brasileiro com o da Venezuela, Belo Monte será fundamental, já que o regime hidrológico daquele país é exatamente oposto ao do Xingu.

 

O presidente da Eletrobrás disse que Belo Monte será “a usina mais barata do mundo”, proporcionalmente à sua capacidade. Há 25 anos, no seu primeiro projeto, era calculada em US$ 25 bilhões, mas este valor será revisto para baixo.

 

Presidente Lula

 

José Antônio Muniz Lopes contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está acompanhando todas as fases do plano de ampliação do setor elétrico. “Pela primeira vez, vi um presidente da República reunir os envolvidos com o plano de expansão do setor elétrico e discutir obra por obra”, contou o presidente da Eletrobrás. A última reunião foi nesta semana e, além da Eletrobrás, participaram a Funai, o Ibama e os ministérios da Fazenda e do Planejamento, entre outros órgãos.

 

“O programa (de expansão) nasce com uma estrutura que, em 46 anos de setor elétrico, eu nunca tinha encontrado”, concluiu Muniz Lopes.

 

O conselheiro 

 

Antes de sua palestra, o presidente da Eletrobrás foi rapidamente apresentado pelo diretor-geral brasileiro, Jorge Samek.

 

Ele disse que José Antônio Muniz Lopes provocou uma verdadeira “revolução” na Eletrobrás. Disse que Itaipu é “eternamente grata” à Eletrobrás, que “foi buscvar recursos, se endividou, enviou técnicos e deu total guarida” ao projeto, desde o seu início. Ao finalizar, chamou Muniz Lopes de “Dr. Energia”.

 

Ao agradecer, o presidente da Eletrobrás contou que considera sua nomeação para o Conselho Administrativo de Itaipu – ele é o mais novo conselheiro – “uma condecoração”. Depois, falou sobre o primeiro tópico de sua palestra: “O novo perfil da Eletrobrás”.

 

A empresa

 

A Eletrobrás atua hoje para ser “a Petrobras do setor elétrico”, como quer o presidente Lula. Para isso, desde o ano passado, a holding está seguindo um plano com “41 ações de transformação”, para que ao final se torne uma megaempresa, como disse Muniz Lopes. Entre as ações, está o primeiro plano de carreira e remunieração do sistema elétrico, que só não se aplica a Itaipu, que criará um “crachá único” para todos os empregados da holding e suas subsidiárias.

 

Ao mesmo tempo, a Eletrobrás conta com a aprovação e uma lei que tramita no Congresso e que criará um sistema próprio de licitação, não mais amarrado à Lei 866, enquanto outro decreto permitiu que a empresa se associasse no exterior para executar obras de hidrelétricas e linhas de transmissão, o que vem fazendo em larga escala no Peru.

 

Depois de um resultado ruim em 2007 – com prejuízo de R$ 1,2 bilhão -, a Eletrobrás pulou em 2008 para um lucro de R$ 6 bilhões, resultado da mudança na linha de atuação da empresa, que agora adota o modelo de ‘cooperação para competição, alta eficiência econômica e engenharia financeira flexível”, como detalhou Muniz Lopes. Isto é, a empresa começa a ser ‘integrada, competitiva e rentável’.

 

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