Primeiro lote, que beneficia 52 famílias que viviam em área de risco na Vila Brás, em Foz do Iguaçu (PR), foi entregue em cerimônia oficial nesta terça-feira
Seu José Maria da Silva acomoda, na casa nova, seus inseparáveis vasos de plantas trazidos na mudança. A gatinha Mimi, do senhor Domingos Bogado, ainda explora o terreno com curiosidade, enquanto Valdecir Maia, que trabalha com reciclagem, faz questão de aconselhar os vizinhos sobre a importância de cuidar bem do novo espaço. Cada um dos moradores recém-chegados ao Conjunto Habitacional Marina Áureo Galdin, em Foz do Iguaçu (PR), possui uma história única. Mas todos têm em comum o fato de terem deixado uma área de risco da Vila Brás, às margens do Rio Poty — nascente do Rio Boicy —, constantemente sujeita a alagamentos, para iniciar uma nova etapa de vida com casa própria.
A Itaipu Binacional entregou, nesta terça-feira (25), as primeiras 52 unidades habitacionais do Projeto Moradias, localizadas no bairro Três Bandeiras. A iniciativa, realizada em parceria com a Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, Itaipu Parquetec e o Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu – Foz Habita, marca o início de um programa que beneficiará, no total, 254 famílias em situação de vulnerabilidade social que vivem em um local classificado como Área de Preservação Permanente (APP), ocupado há mais de 30 anos.
“Estamos entregando casas com um dos processos construtivos mais modernos do mundo, indicado pelo Ministério das Cidades. É uma sensação de dever cumprido: tirar famílias de áreas alagadas e oferecer moradia digna, sem custo para elas”, afirmou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri.
Ele complementou que a iniciativa está alinhada às diretrizes do Governo do Brasil e ao programa Minha Casa Minha Vida, além de ser um exemplo de parceria entre instituições públicas para transformar realidades.

O diretor administrativo da Itaipu, Iggor Gomes Rocha, explicou que os recursos para a construção das casas vêm da desmobilização patrimonial da empresa, por meio da venda de imóveis que não têm mais função operacional. Ele destacou que essa estratégia permite transformar patrimônio em inclusão social, garantindo que cada leilão realizado se converta em novas moradias para famílias vulneráveis. “Enquanto entregamos as primeiras unidades, seguimos com esse processo quase simultâneo às nossas atividades, porque é bom para Itaipu e para a comunidade. Hoje mesmo, enquanto estamos aqui celebrando, realizamos mais um leilão e conseguimos vender mais casas, garantindo recursos para novas moradias”, detalhou Iggor Gomes Rocha.
O diretor ainda destacou que o projeto é um modelo replicável. “Uma premissa do convênio é que ele só faz sentido se puder ser aplicado em outras cidades. Já temos continuidade prevista em Castro (PR), e o Governo do Brasil abriu uma frente nacional para construção sustentável”, explicou.
Já o diretor-superintendente do Itaipu Parquetec, Irineu Colombo, ressaltou o caráter inovador da iniciativa. “Não se trata apenas de construir casas, mas de entregar um projeto que alia tecnologia, sustentabilidade e inclusão social”, explicou.
Segundo ele, a tecnologia escolhida — Wood Frame — permitiu concluir a obra com menor geração de resíduos. “Estudos indicaram que a construção em alvenaria teria elevado o impacto na pegada de carbono e causado uma maior demora, enquanto a tecnologia adotada possibilitou uma entrega significativamente mais rápida”, acrescentou.
*Fim do risco e conquista da casa própria*
A entrega das chaves oficializou a realocação das famílias e garantiu que elas não mais sofressem com enchentes e a insegurança das áreas de risco.
O morador Daniel Gomes resumiu o sentimento de realização pessoal e gratidão pela iniciativa. “É uma emoção muito grande de estar realizando um sonho. Sair do aluguel, sair de uma área bem precária onde a gente morava. Gratidão mesmo de estar realizando esse sonho.”
Andreia Silva, outra beneficiária do projeto, destacou que, com a casa nova, finalmente está realizando o sonho de ter uma moradia bonita, um local seguro e definitivo, onde pode construir o futuro ao lado dos seus seis familiares.
A mudança das 52 famílias para suas novas residências, equipadas com asfalto, luz e água, ocorreu nos dias 18 e 19 de novembro, antes do evento em respeito e consideração aos moradores, visando a segurança devido aos riscos de alagamento causados por chuvas recentes. A ação contou com apoio de voluntários da Itaipu e de parceiros. O projeto prevê a entrega das 254 unidades habitacionais até o final do próximo ano, sendo o Lote 2 esperado para o primeiro trimestre de 2026.
Com investimento total de R$ 76,3 milhões, o projeto utiliza o sistema construtivo Wood frame, tecnologia industrializada em madeira que reduz significativamente as emissões de carbono e permite a entrega das moradias em até seis meses. As casas possuem dois quartos e infraestrutura completa, incluindo acessibilidade para pessoas com deficiência.
Para a moradora Thaís Fernanda de Oliveira, primeira a receber oficialmente as chaves durante a cerimônia, a mudança representa principalmente segurança e conforto. “Pelo menos quando chover eu vou poder sair de casa. Antes eu não podia. Quando chovia eu me preocupava, agora não”, declarou.

A cerimônia contou com a presença dos diretores da Itaipu Luiz Fernando Delazari (jurídico), Renato Sacramento (técnico executivo) e Carlos Carboni (Coordenação); do diretor de Tecnologias do Itaipu Parquetec, Alexandre Gonçalves Leite; do prefeito de Foz do Iguaçu, Joaquim Silva e Luna; do diretor-superintendente do Foz Habita, Ivatan Batista e demais autoridades.
Sistema Construtivo Sustentável
O sistema construtivo Wood frame utiliza madeira de reflorestamento como matéria-prima, garantindo a redução da emissão de carbono. O sistema atende às diretrizes do Governo do Brasil sobre transição energética justa, com sustentabilidade aplicada à construção civil, reduzindo o tempo de obra e a produção de resíduos.
A tecnologia construtiva veio da Europa e é chamada de tecnologia de Construção a Seco. Ela utiliza muito menos recursos hídricos durante a obra, com muito menos desperdício de material, porque as unidades habitacionais são produzidas na fábrica e todas as paredes são trazidas para a obra, para a montagem, já com as tubulações hidráulicas, elétricas e fiação acopladas.
O Projeto Moradias conquistou, em 2024, o Prêmio 21 de Agosto, concedido pelo Instituto Habita Brasil, na categoria Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade.







