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Tecnologia
Unesco lança Guia Prático do Software Livre
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13/11/2007

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) lançou nesta terça-feira (13) pela manhã, na Latinoware 2007, o Guia Prático sobre Software Livre – Sua Seleção e Aplicação na América Latina e no Caribe. Editado em espanhol e de autoria de Fernando da Rosa e Federico Heinz, o guia serve tanto para as pessoas que querem uma introdução no campo do software livre como para aquelas que já têm experiência na área.

 

A Latinoware 2007, que continua nesta quarta-feira, é um evento promovido pela Itaipu Binacional em parceria com a Companhia de Informática do Paraná (Celepar) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), no Parque Tecnológico Itaipu, em Foz do Iguaçu. O encontro reúne cerca de 2.800 participantes, entre estudantes e profissionais do Brasil, Paraguai, Argentina, Cuba, México, Peru, Uruguai e Venezuela.

 

Segundo Fernando da Rosa, o Guia Prático sobre Software Livre foi elaborado a partir de uma discussão que teve início em 2005, na Conferência Latino-americana e do Caribe de Software Livre, realizada no Recife. Na opinião do autor, a idéia é divulgar as ferramentas de código aberto, que são de grande utilidade na educação, nos programas de governo eletrônico e na inclusão digital de pessoas de baixa renda e também das que possuem deficiência auditiva ou visual.

 

O guia explica diversos processos de desenvolvimento do software livre, apresenta estudos de potencialidade das ferramentas de código aberto e traz orientações para quem deseja migrar a partir de software proprietários. “Nosso objetivo era fazer um guia simples, com uma linguagem acessível. Ao final, há uma série de links para que o leitor possa acessar conteúdos na Internet, que estarão sujeitos a contribuições e melhorias, a exemplo da filosofia do software livre”, afirmou Fernando da Rosa.

 

Software livre traz economia para Itaipu

 

A adoção de software baseados na tecnologia livre fez com que a Itaipu economizasse cerca de R$ 4 milhões em pagamento de licenças de software proprietários. Além do benefício econômico, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, também destacou, na abertura oficial da 4ª Conferência Latino-Americana de Software Livre - Latinoware 2007, que o software livre é uma ferramenta importante para a difusão do conhecimento e inclusão digital.

 

A abertura oficial do evento também contou com a presença do prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi, do diretor-presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Marcos Vinícius Ferreira Mazoni, do diretor de Serviço e Multimídia da Companhia de Informática do Paraná (Celepar), Cláudio Crossetti Dutra, do gerente de Inovações Tecnológicas do Ministério de Planejamento, Corinto Meffe, e do assessor da Presidência do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Edgar Piccini.

 

Considerado o segundo maior evento de software livre da América do Sul, a Latinoware vai promover, entre hoje e amanhã, cerca de 60 palestras, 16 mini-cursos e uma exposição de projetos. O objetivo do evento é mostrar os avanços do software livre no mundo e discutir temas como a tecnologia da informação e comunicação com base em software livre.

 

Segundo a superintendente de Informática da Itaipu, Marli Portella, o principal objetivo da Latinoware é promover a disseminação do software livre para a comunidade. Marli também destacou que a Itaipu está migrando gradativamente de software proprietários para software de plataforma livre. Uma das novidades apresentadas foi o novo portal da Itaipu, baseado justamente na tecnologia livre.

 

A utilização de software livre vem crescendo em todo o país, principalmente no setor público. Segundo o diretor-presidente do Serpro, Marcos Mazoni, atualmente, 70% dos servidores de empresas públicas já são baseados na tecnologia livre. Já a utilização do software livre por usuários finais ainda é pequena, mas está crescendo gradativamente. “Sabemos das potencialidades do software livre e a grande participação de profissionais e estudantes na Latinoware mostra o interesse em ampliar o seu desenvolvimento”, afirmou Mazoni.

 

O diretor de Serviço e Multimídia da Celepar, Cláudio Crossetti Dutra, também destacou a importância da Latinoware. Segundo ele, a Celepar vai apresentar diversos sistemas já consolidados, como o Expresso (e-mail) e o programa Paraná Digital. Esses sistemas contribuíram para que o Paraná economizasse cerca de R$ 130 milhões com licenças de software.

 

Software livre e proprietário podem conviver pacificamente

 

As teses comumente alardeadas de que o software livre vai contra a lógica capitalista, tira empregos e inibe os ganhos com propriedade intelectual foram, uma a uma, demolidas na conferência de abertura do Latinoware 2007. A palestra foi ministrada por uma das maiores autoridades mundiais da área, Bruce Perens, que foi líder do projeto Debian, co-fundador da Open Source Iniciative e criador da definição de “código aberto”. Ex-programador da Pixar, famosa por animações digitais como Toy Story, ele foi também fundador dos projetos Linux Standard Base e UserLinux.

 

Perens iniciou sua exposição fazendo uma comparação entre software livre e mercado de capitais, assuntos que, segundo ele, têm muito em comum. “Empresas vão ao mercado de capitais para distribuir custos e riscos. Similarmente, o modelo de desenvolvimento do software livre divide custos e riscos entre milhares de programadores espalhados pelo mundo”, afirmou.

 

Agora, como empresas como Amazon e Google, que utilizam largamente ferramentas de código aberto, ganham dinheiro com isso? A razão, segundo Perens, está no uso de software diferenciado e não-diferenciado. Aproximadamente 95% das aplicações em qualquer tipo de empresa lançam mão de software não-diferenciado (operação de sites, servidores de web, processadores de texto etc). “O software não-diferenciado é aquele sobre o qual a companhia não consegue ter qualquer controle. A Microsoft produz programas não-diferenciados, porque, além de  você, qualquer concorrente da sua empresa pode comprar também. Por isso, as empresas deveriam tirar todo o dinheiro que aplicam em programas não-diferenciados e coloca-lo integralmente em software diferenciado”, argumentou Perens.

 

A Amazon criou um software que permite aos clientes recomendar produtos de que tenham gostado e o Google tem uma ferramenta que possibilita estabelecer um ranking das páginas de Internet visitadas. “A Amazon aumentou suas vendas em 15% com sua ferramenta de recomendação. E o Google, com seu sistema exclusivo, tem um mecanismo de busca mais eficiente que concorrentes como o Yahoo. Esses são exemplos de programas diferenciados e do bom uso de software proprietário. São empresas que tiram proveito de sistemas sobre os quais fazem segredo absoluto”, completou.

 

Perens defendeu as vantagens econômicas do desenvolvimento de ferramentas de código aberto. Para produzir um software proprietário, a empresa precisa financiar o desenvolvimento primeiro, confiando que o produto será um sucesso de vendas. No software de código aberto, o processo é centrado no consumidor que, no caso, é o próprio desenvolvedor. “Os projetos de software livre sempre partem de uma pessoa e, para prosperar, precisam ser úteis ao menos para outro usuário. Se o projeto não é bom, apenas um programador perdeu tempo com ele e não equipes de marketing e de técnicos que consumiram meses de trabalho e de recursos financeiros”, disse.

 

Por fim, o argumento de que programas de código aberto têm tirado emprego de programadores, como se costuma ouvir nos Estados Unidos, foi refutado por Perens. Conforme dados de pesquisas de sindicatos norte-americanos, apenas 30% dos programadores trabalham em companhias de software. O restante trabalha em empresas usuárias de programas. “Os empregos que estão sumindo nos Estados Unidos não se devem ao emprego de software livre, mas sim estão indo para programadores bem formados de outros países, que aceitam trabalhar por menos e via Internet, como é o caso de vocês (do Brasil)”, afirmou.