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Meio Ambiente
Sul do País terá mais chuvas até o final do século, diz climatologista
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18/11/2010

Até o final do século, a região Sul do Brasil terá um aumento de 10% no volume de chuvas anuais. A perspectiva é do climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU). Considerado um dos maiores especialistas em clima no Brasil, Nobre ministrou a palestra ‘Mudanças climáticas globais: porque devemos nos preocupar’, durante a abertura do Encontro Cultivando Água Boa +8, na noite desta quarta-feira (17).
 
Ele revelou dados recentes do Inpe, que apontam, até o final do século, a ocorrência de chuvas mais severas no Sul do País, com ciclones, ressacas e tempestades. A previsão também serve para a Argentina e o Uruguai. Para o Norte do Brasil, a perspectiva do Inpe é de queda da precipitação. A região Nordeste também deve ter mais secas. “Qualquer perturbação do clima traz impactos negativos. Porque desenvolvemos atividades em função do clima que ocorria. As hidrelétricas e estradas, por exemplo, não foram previstas para chuvas intensas”, avaliou.
   
A Bacia do Paraná não sofrerá o mesmo impacto que o restante do Sul, mantendo-se ‘neutra’, segundo o pesquisador. Segundo o cientista, não há evidências, no momento, sobre a relação entre mudanças climáticas e fenômenos pontuais, como os tornados do Sul ou a chuva de granizo que atingiu Guarapuava, na região central do Paraná, na última semana.
  
Granizo é bastante comum na primavera e verão do Sul e Sudeste. Mas sabemos que os eventos climáticos extremos que a gente vê na televisão, como chuvas, inundações e secas, estão acontecendo com mais rigor, intensidade e maior frequência”. Para Nobre, é preciso ter cautela ao associar mudanças climáticas e a fenômenos como esses, relação que só pode ser atestada com modelos científicos.
  
“O número de eventos mostrado pelos veículos de imprensa é de cinco vezes maior que há anos passados. Mas não há como dizer que essas ocorrências aumentaram cinco vezes”, ponderou. “Mas a temperatura do planeta de fato aumentou”, disse. Para Nobre, para se ter certeza de que o clima mudou é preciso pelo menos duas ou três décadas. “Estamos observando se essas mudanças são permanentes ou se é uma condição flutuante”.
 
Segundo o climatologista, ainda há tempo para salvar o planeta.
 
Mudanças
   
Nobre se baseou em dados científicos. “Eu só consigo falar de ciência. Não sou ambientalista ou político”, justificou. Para ele, as mudanças impostas pelos modos de consumo da sociedade moderna provocaram uma transformação com força semelhante àquelas relacionadas à natureza. O resultado disso é o risco de colapsos em sistemas naturais, que podem exterminar as condições de vida na Terra.
   
Apesar do cenário aparentemente catastrófico para o futuro, se mantidas as emissões de gases na atmosfera, Nobre acredita que ainda dá tempo para salvar o planeta. “Nós estamos no limiar de evitar uma transformação e um risco muito grande de colapso de sistemas naturais e das bases da vida”, avaliou.
  
De acordo com o climatologista, a “única maneira de evitar o colapso é por meio da redução rápida e drástica das emissões dos gases que causam o aquecimento global”. E isso, para ele, passa por uma mudança na matriz de energia e nos padrões de consumo.
  
Como fazer essa revolução? Segundo Carlos Nobre, o uso da tecnologia em benefício de energias limpas não é condição suficiente. “Isso é fundamental, condição necessária, mas não suficiente. Precisamos de uma mudança profunda comportamental e global nos padrões de consumo”. E, neste processo, a imitação dos modelos norte-americanos de consumo pode levar ao fracasso.
   
Como o consumo é a base da economia capitalista, o equilíbrio da Terra depende da equação entre a necessidade de consumir e educação. “A ponte que liga o consumismo ao consumo sustentável é bem difícil, porque demanda investimento em educação”.
  
Na análise de Nobre, ações como o encontro Cultivando Água Boa pode ajudar nesse processo de reeducação. “O fundamental para o século 21 é educação e mudança de comportamento. E eventos como este são muito educativos”, finalizou.