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Mulheres se destacam na Diretoria Técnica de Itaipu, universo majoritariamente masculino
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26/09/2023

A Diretoria Técnica da usina de Itaipu sempre foi um universo majoritariamente masculino, mas, aos poucos, essa realidade vem mudando, com as mulheres ganhando cada vez mais papel de destaque na área.

Com maior número de profissionais da empresa, a Diretoria Técnica, somando as duas margens da usina, o lado paraguaio e brasileiro da hidrelétrica, tem um efetivo de 908 trabalhadores(as), 436 deles são brasileiros e outros 472 são paraguaios. Desse total, 70 são mulheres, ou seja, 7,7% do total do quadro funcional, com 27 trabalhadoras brasileiras e outras 43 paraguaias. Uma brasileira e duas paraguaias ocupam cargos de gerência formal.


Eduarda com os colegas da Diretoria Técnica. Foto: Arquivo pessoal.

Na atual gestão, no entanto, seguindo orientações do governo do presidente Lula, a participação das mulheres no ambiente corporativo passou a ter um papel de maior relevância, juntamente com outras questões priorizadas por diretrizes governamentais, como a luta pela igualdade salarial entre homens e mulheres, pelo fim do racismo e pela preservação ambiental, entre outras. Como exemplo disso, a Itaipu anunciou, no dia 25 de julho, a criação do Comitê de Gênero, Raça e Inclusão da margem brasileira.

A engenheira eletricista Eduarda Abatti Dahlem, é um exemplo disso. Primeira mulher a se formar em Engenharia Elétrica no campus de Medianeira da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ela acumula em sua carreira outro pioneirismo: é também a única mulher de Itaipu na Divisão de Manutenção de Equipamentos de Transmissão da Superintendência de Manutenção (SMMT), no setor MET1 (Transformadores), responsável pela manutenção dos transformadores de alta tensão da usina.

Com quase dois anos na casa, a engenheira eletricista coordena, em conjunto com outros dois engenheiros, uma equipe formada por 12 técnicos. O trabalho dela se divide entre ações de planejamento e programação das manutenções periódicas e aperiódicas do setor e atividades de campo, como coordenação e acompanhamento das manutenções, inclusive auxiliando na execução das atividades.

“Esse contato com as atividades práticas de manutenção foi e está sendo muito importante, pois, além de proporcionar uma evolução significativa na minha experiência de campo, acelerou a minha integração à equipe”, diz a engenheira.

Eduarda Dahlem nasceu e viveu praticamente a maior parte da sua vida em Santa Terezinha de Itaipu, cidade vizinha a Foz do Iguaçu. “Na época, meus pais não tinham condições suficientes para pagar uma faculdade particular ou me manter em outra cidade, então eu precisava escolher entre um dos cursos que eram ofertados na UTFPR-Medianeira ou na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Foz”, conta.

Como tinha afinidade com a área de Ciências Exatas, optou pelo curso de Engenharia Elétrica. “Foi uma grata surpresa eu gostar tanto da profissão que escolhi estudar e exercer”, diz. No começo da faculdade, havia apenas oito mulheres estudando na turma dela. Mas, ao longo do tempo, o número foi caindo e ela ficou sozinha, tornando-se a primeira mulher a se formar em Engenharia Elétrica no campus da universidade.


Foto: Arquivo pessoal.

Antes de Itaipu, ela trabalhou no Operador Nacional do Sistema (ONS), primeiramente como trainee, no Centro Regional Sudeste, no Rio de Janeiro (RJ), e depois foi efetivada como engenheira no Centro Nacional, em Brasília (DF).

Ela atuava em algumas frentes de trabalho, como no acompanhamento de novas obras de transmissão e geração, no treinamento dos operadores de tempo real, na implementação dos limites sistêmicos e outras grandezas de interesse no PI-System, no desenvolvimento e atualização das telas do sistema supervisório, entre outros.

“A natureza da manutenção em si é desafiadora, pois, apesar de planejarmos e programarmos grande parte das nossas atividades, sempre acontecem alguns imprevistos durante sua execução. Por isso, para mim, o maior desafio é estar preparada para essas adversidades e saber conduzir a equipe da melhor maneira possível, para solucionar os problemas.”

Em Itaipu, o mais recente desafio da engenheira foi coordenar uma substituição de transformador. “Foram mais de duas semanas de trabalho intenso, envolvendo praticamente todas as divisões do Departamento de Manutenção, em uma atividade que eu nunca havia acompanhado.”

Para ela, a experiência foi muito gratificante. “Aprendi muito nessas duas semanas, e foram aprendizados que eu só obtive pela forma como a substituição desse transformador aconteceu”, diz. Nessa experiência, ela pôde contar com o apoio de diversos colegas, que haviam participado de atividades semelhantes no passado.

“Eles me passaram diversas orientações e, principalmente, segurança. Saber que esses profissionais experientes estavam ali me apoiando e acreditando em mim, foi fundamental! E, claro, não poderia deixar de comentar sobre o trabalho impecável dos técnicos que botaram a mão massa e que foram os maiores responsáveis pelo sucesso desse trabalho”, elogia.

Eduarda Dahlem diz que está tão acostumada a conviver num ambiente majoritariamente masculino que, para ela, isso é indiferente. “Pode ser que esses homens que agora me rodeiam não estivessem acostumados a conviver com uma mulher dentro do ambiente laboral com uma posição igual ou superior à deles, mas eu não me importo e não me deixo levar por essas diferenças.”
 

Histórico explica situação

Em decorrência do longo período de construção (1975-1984) e da grande rotatividade de pessoal, o consórcio Unicon, responsável pelas obras civis da Itaipu, tinha em seu banco de dados 100 mil trabalhadores cadastrados, ao final de 10 anos. Em sua quase totalidade, homens. Itaipu se converteu em um território masculino, um imenso canteiro de obras onde poucas mulheres pisaram - e no máximo a passeio, sempre acompanhadas.

O trabalho feminino existia nos escritórios, mas a procura por empregos, pelas mulheres, era inexpressiva, em relação aos homens.

Embora seja compreensível que, na fase de obras, nos idos dos anos de 1970, Itaipu tenha atraído poucas mulheres, pelas características dos serviços ali executados, até hoje a usina tem maioria de homens entre os seus empregados.

 

Mudança é lenta, mas vem acontecendo

A dificuldade de atração de mulheres paras essas atividades decorre de uma realidade que vem mudando nos últimos anos, ainda que lentamente: a baixa quantidade de mulheres ingressando e, principalmente, concluindo cursos em carreiras historicamente tidas como tipicamente masculinas. É o caso dos cursos de Engenharia Elétrica, por exemplo.

E essa situação não é exclusiva do Brasil e do Paraguai. Para se ter uma ideia da relevância do tema, em 1997 o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), maior associação mundial de engenheiros eletricistas, com mais de 400 mil filiados, lançou a IEEE Women in Engineering (IEEE WIE), uma das maiores organizações profissionais internacionais dedicadas a promover engenheiras e cientistas mulheres e inspirar as jovens ao redor do mundo a seguirem seus interesses acadêmicos por uma carreira em engenharia. A rede já conecta mais de 40 mil integrantes, em mais de 125 países.