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Meio Ambiente
Dia Mundial da Água: hora de refletir e de mudar
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22/03/2010

 

Nelton Friedrich *

 

 

Há quem diga – ironicamente – que quando se cria uma data alusiva a um determinado tema é porque esse assunto está sendo esquecido nos demais dias do ano. Com a água, isso bem pode ser verdade. Talvez por ser um elemento tão presente em nossas vidas, ele esteja um pouco esquecido. Afinal, 70% de nossos corpos são feitos de água.

 

Neste Dia Mundial da Água, vale lembrar que, há milhões de anos, a quantidade de água neste planeta é a mesma, interconectando as comunidades de vida de todo o mundo, passando por oceanos, geleiras, atmosfera, plantas, animais e o homem. É urgente refletir sobre essa dimensão espiritual da água, que nos une a todos.

 

Prova de que nos esquecemos dessa dimensão é a degradação ambiental, que atingiu níveis nunca vistos. Hoje, 250 milhões de pessoas em 26 países enfrentam falta crônica de recursos hídricos. A previsão é de que, em 30 anos, o número saltará para 3 bilhões de pessoas em 52 países. Mesmo no Brasil, que detém mais de 12% da água doce do planeta, 70% dos rios do Rio Grande do Sul à Bahia estão com graus de poluição preocupantes e, em alguns casos, fora de controle.

 

Na região da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná 3, área banhada pelas microbacias interconectadas com o reservatório da Itaipu Binacional, nesses últimos sete anos, avançamos muito em resultados qualitativos e quantitativos, mas ainda há muito por se fazer para assegurar a qualidade da água para as gerações futuras.

 

O programa Cultivando Água Boa é um amplo conjunto de estratégias para garantir a sustentabilidade de toda uma bacia hidrográfica. A partir da identificação dos principais passivos ambientais da região (contaminação das águas por agrotóxicos, sedimentos e matéria orgânica; erosão; e perda da biodiversidade) foi criada uma série de ações corretivas, inspiradas por documentos planetários como a Carta da Terra, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e a Agenda 21. Ao todo, são 63 ações e mais de 2.200 parceiros.

 

A metodologia de implantação passa pela sensibilização das comunidades (Oficinas do Futuro) chegando à pactuação de compromissos (Pacto das Águas). O programa está prestes a alcançar 127 microbacias da região. Três diferenciais são a metodologia participativa de gestão, o planejamento e a ação por bacias hidrográficas, e as ações educação ambiental que permeiam todos os projetos.

Cada município tem um Comitê Gestor da Programa Cultivando Água Boa (instituído por leis municipais em 2009), composto por organizações da sociedade civil, como associações de moradores, sociedades de classe e cooperativas, e do governo, como órgãos ambientais, ministério público, entre outros. A participação coletiva também fica evidente pelo monitoramento da qualidade da água, realizado pela própria comunidade.

Um dos pontos fortes da iniciativa está na implantação e conservação de matas ciliares. Nos últimos anos, mais de 530 quilômetros de margens foram recompostas, com o plantio de 2,5 milhões de mudas, e protegidas por cercas. Além de melhorar a qualidade da água, a proteção dos rios permite criar corredores de biodiversidade, conectando os remanescentes de matas nativas, reconectando flora e fauna. Nas cinco primeiras microbacias trabalhadas, produtores rurais testemunham o retorno de 55 espécies da flora e fauna que haviam se tornado raras na região.

 

A difusão e o envolvimento com a cultura da água (o que se faz com a água, para a água e na água) é um dos fundamentos do programa. Um dos objetivos é recuperar a sacralidade da água, algo que os povos originários e as civilizações antigas bem sabiam.

 

Dentre as ações do Cultivando Água Boa, a Itaipu também contribui para a sustentabilidade da produção agrícola, com uma série de iniciativas, como a readequação de 340 km de estradas rurais, a instalação de 117 abastecedouros comunitários e o terraceamento de 4.650 hectares, entre outras práticas conservacionistas, como o plantio direto.

 

Além disso, o programa já promoveu a conversão de cerca de mil agricultores para a prática de técnicas orgânicas e agroecológicas, e estimula o cultivo de plantas medicinais, fitoterápicos, aromáticos e condimentares. Hoje, seis municípios adotaram a distribuição de fitoterápicos no SUS. Outras iniciativas incluem a promoção da sustentabilidade junto a segmentos ambiental e economicamente vulneráveis - indígenas, coletores de materiais recicláveis, pescadores artesanais, agricultores familiares, entre outros.

 

Em comemoração ao Dia Mundial da Água, neste 22 de março, a Itaipu Binacional e dezenas e dezenas de parceiros do programa Cultivando Água Boa e outras iniciativas irão promover atividades especiais em todos os 29 municípios da bacia. Será uma celebração conjunta pela água e pela vida, ressaltando sua essencialidade e a necessidade de cuidá-la.

 

* Nelton Friedrich é Diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional.