Líder mundial na geração de energia limpa e renovável

Energia
Condomínio Ajuricaba começa a sair do papel
Tamanho da letra
25/05/2010

O Condomínio de Energias Renováveis da Agricultura Familiar na Bacia do Rio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon, começou a sair do papel. Na última sexta-feira (21), o agricultor Nelbio Bronstrup recebeu o equivalente a R$ 14 mil em materiais de construção civil para adequar sua propriedade ao projeto idealizado pela Itaipu em parceria com diversas entidades.

  

O valor foi subsidiado pela Itaipu e pela Prefeitura de Marechal Cândido Rondon. Bronstrup foi o primeiro produtor rural contemplado na fase inicial do projeto, que abrange as 13 propriedades rurais mais próximas do local escolhido para abrigar a central termelétrica do futuro condomínio.

  

Nesta semana, outras 12 propriedades da região também começarão a receber os materiais. A expectativa é que, em dois meses, as primeiras 13 propriedades contempladas – de um total de 41 – já estejam produzindo energia a partir de dejetos da agropecuária. A ideia é instalar biodigestores e gasodutos primários em todas as propriedades, para produção de gás; um gasoduto principal, de 15,5 quilômetros de extensão; e uma microcentral termelétrica a biogás. A energia gerada será repassada para a Copel e convertida em crédito para os agricultores. Os projetos de adequação já foram entregues na quinta-feira da semana passada.
  


Bronstrup: o primeiro beneficiado.
Pioneiro no País, o projeto é fruto de uma parceria da binacional, por meio da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, com a prefeitura de Marechal Cândido Rondon. A condomínio ainda conta com a cooperação técnica de diversas insituições.

    

Entre elas, Emater-PR, Iapar, Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves, Fundação Parque Tecnológico Itaipu e Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (Itai).

 

O custo total do projeto é de R$ 2,817 milhões, sendo R$ 2,564 milhões de Itaipu e o restante da Prefeitura. Se tudo correr bem, até o final de novembro toda a parte de construção civil das 41 propriedades estará concluída e pronta para gerar energia.

 

Após a adequação física das propriedades, serão instalados os biodigestores; na sequência, a construção do gasoduto principal e, por fim, da microcentral termelétrica. Caberá à Prefeitura de Rondon fiscalizar as obras, que ficarão sob responsabilidades dos próprios agricultores – com mão-de-obra própria ou com pedreiros contratados, de acordo com o interesse de cada um.

 

Otimismo

  

Na propriedade de Bronstrup, ele e a família mantêm 27 vacas leiteiras – 23 em lactação – e outras 30 novilhas que, no futuro, também servirão para produção de leite. Hoje são coletados cerca de 300 litros de leite por dia e a produção é comercializada com uma empresa de laticínio da região.

 

Mário Bronstrup, 32 anos, filho de Nelbio e administrador da propriedade, ressalta que as reformas vão facilitar o manejo e o aproveitamento dos dejetos. “Vai facilitar de diversas formas. E já dá para pensar num retorno melhor”, aponta ele, que mora no local com a mulher e dois filhos. “Estamos bastante otimistas com o processo”.
  


Bley (à esquerda) durante encontro em Ajuricaba.
Segundo Ivan Decker Raupp, gerente regional da Emater-PR, a região oeste concentra 30% da produção e 17% dos produtores de leite do Estado. E com predominância da agricultura familiar, o que demonstra o potencial de expansão do projeto.

   

“Esse modelo é concebido com esse propósito, de ser replicável para outras regiões. E a base de tudo está na organização dos produtores”, comenta Raupp, destacando que a Emater contribuiu na constituição da Cooperbiogas, a cooperativa que vai gerir a produção e comercialização da energia na Bacia do Ajuricaba. “Eles (agricultores) precisam estar organizados. E empreendimentos coletivos, se não forem organizados, não avançam”, complementa.

  

O prefeito de Rondon, Moacir Froehlich, engenheiro agrônomo de formação, destacou o investimento do município no projeto e os benefícios que serão alcançados pelo pequeno produtor. “É uma alegria participar do pontapé inicial de um projeto tão inovador, pioneiro. Os dejetos que sempre trouxeram problemas para o agricultor agora serão a solução”, afirmou.

  

Febre na década de 70

 

O superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Cícero Bley Jr, ressalta que as obras de adequação nas propriedades são fundamentais para evitar o que ocorreu na década de 70, quando houve uma febre de biodigestores no País. Segundo ele, na época o projeto não avançou justamente porque não houve o cuidado de ajustar as propriedades rurais ao sistema.

 

Para contornar esses problemas, as propriedades que compõem o Condomínio da Bacia do Rio Ajuricaba vão receber melhorias como a troca do telhado (o que evita infiltrações e vazamentos), das calhas. Sem contar a instalação de caixas de mistura dos dejetos e lagoa de armazenamento de biofertilizantes. “São medidas iniciais que, se não forem tomadas agora, não surtem efeito (depois)”, aponta Bley.

 

Coincidentemente, Nelbio Bronstrup era um dos muitos agricultores que, na década de 70, se encantaram com a possibilidade de produzir gás na propriedade. “Há 30 anos eu tinha comprado uma cúpula para fazer gás, que seria usado na cozinha, para a geladeira, mas não deu certo. Agora fiquei bem mais animado. E todos os vizinhos estão com expectativa de que o negócio vai funcionar”, disse.