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Responsabilidade Social
Meninos do Lago compõem metade das vagas da Seleção Brasileira
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15/03/2013

Metade das vagas da Seleção Brasileira de Canoagem Slalom, montada com vistas à Olimpíada de 2016, está ocupada por atletas do Instituto Meninos do Lago (IMEL), que está mudando a vida de jovens e crianças de famílias de baixa renda de Foz do Iguaçu.

Dos 16 atletas da Equipe Permanente de Canoagem Slalom, oito são vinculados ao IMEL, que mantém projeto social e desportivo em parceria com a Itaipu Binacional, Federação Paranaense de Canoagem (Fepacan) e Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa).

Com a convocação, os jovens passam a ter aporte financeiro – o dobro do valor que ganham hoje com bolsa-atleta – e ficam concentrados no Centro de Treinamento em Foz do Iguaçu. No local, criado com suporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), eles conviverão com atletas como Ana Sátila, 16ª colocada nos Jogos Olímpicos em Londres. A jovem integra a seleção, que treina no Canal Itaipu – construído dentro da hidrelétrica.

“É uma nova fase para nossas vidas”, disse, animado, o jovem Weltton Pietro de Carvalho, de 15 anos, há quatro no Meninos do Lago. Ele e seu irmão gêmeo, Wallan Patrick de Carvalho, são os convocados mais recentes da equipe permanente. Ganharam não só as vagas deixadas por outra dupla, mas também uma renda mensal de quase R$ 3 mil, fruto das bolsas que passam a acumular. “Antes do Meninos do Lago nunca tínhamos ouvido falar de canoagem”, afirmou Weltton. “Agora vivemos para o esporte”, completou Wallan.

Bons alunos na sala de aula – com notas médias na ordem de 9,0 –, e nas águas – eles são terceiro no ranking nacional em sua categoria –, os jovens pretendem atingir desempenho semelhante ao dos gêmeos eslovacos Pavol e Peter Hochschorner (lê-se roquescorner), tricampeões olímpicos de canoagem slalom.

Incentivo não falta: filhos de uma dona de casa e de um comerciário, eles já são os ídolos da família, que conta ainda com outro canoísta, Wallison Diego de Carvalho, 17 anos. “Sei que não é fácil chegar onde eles estão, é uma conquista difícil”, disse o primogênito dos Carvalho, não convocado para a equipe permanente. “O Wallison torce mais pelos irmãos do que por ele mesmo”, completou a mãe dos atletas, Lenir Pavan.

Veteranos

Criado em 2009, o projeto Meninos do Lago atende a cem crianças dos bairros Vila C e Morumbi, com idade entre 7 e 18 anos, estudantes da rede pública de ensino. A iniciativa está vinculada ao instituto homônimo e à Fepacan, mas o treinamento de jovens atletas em Itaipu ocorre desde 2006, via CBCa.
Em Itaipu, o projeto é ligado ao Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente (PPCA), vinculado à Diretoria Geral Brasileira. Desde 2009, 389 atletas passaram pelo Meninos do Lago.

“No primeiro momento, o projeto teve a proposta de tirar os adolescentes da situação de vulnerabilidade social, mas o alcance foi surpreendente. Além do efeito imediato, tivemos a melhora do desempenho escolar, das relações sociais dos adolescentes e o resultado no campo do desporto”, disse Joel de Lima, assistente do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek.

“Esse conjunto tornou o projeto referência no País e abriu novos horizontes para esses meninos e meninas, que têm a chance de enxergar o mundo de uma nova perspectiva”, concluiu Joel.

Em menos de sete anos, o Meninos do Lago projetou campeões internacionais como Leonardo Lucas Curcel – que começou o projeto social, em 2009, – e João Vítor Machado, atleta veterano do IMEL, ambos integrantes da Seleção Brasileira. Juntos, eles somam diversos títulos como campeões sul-americano e pan-americano.

“Estou no Meninos do Lago desde o início e pude ver toda a evolução dos atletas que hoje estão entre os primeiros do ranking nacional. Hoje, o projeto serve de espelho para as demais associações do Brasil”, afirmou João Vítor Machado. “Nestes últimos anos vi como um projeto de qualidade e com pessoas que trabalham com seriedade tornou possível levar atletas à final de um mundial”, completou.

Do time dos veteranos do IMEL Meninos do Lago convocados para a Seleção Brasileira estão ainda Fábio Scchena Dias Rodrigues, que divide a categoria K1 (caiaque com um atleta) masculino sênior com João Vítor; e Felipe Borges da Silva, na C1 (canoa com um atleta) masculino sênior, a mesma categoria de Leonardo Curcell.

Completam a equipe Maicon Henrique Borba e Carlos Eduardo Morais da Silva, ambos da categoria C2 (canoa com dois atletas) masculino júnior, a mesma dos irmãos gêmeos Carvalho.

Meninos do Lago e Itaipu ajudam esportistas de todo o País

O Meninos do Lago e a Itaipu beneficiam mesmo os canoístas não revelados pelo projeto e de outras partes do País, como a atleta olímpica, Ana Sátila. É no Canal Itaipu, considerado um dos melhores canais artificiais do mundo para a prática do esporte, que Ana Sátila e outros canoístas treinam regularmente.

Construído pela hidrelétrica na área do Parque da Piracema, o Canal Itaipu já sediou campeonatos brasileiros, pan-americanos e mundiais. Para as próximas competições, a infraestrutura local vai ser ainda melhor. Um projeto prevê a construção de um galpão para armazenamento dos equipamentos dos atletas, entre outras novidades. Em 2015, as águas bravas do canal receberão o Mundial de Canoagem Júnior e Sub 23.

A facilidade de dispor do canal e infraestrutura para treinamento foi determinante para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) escolhesse Foz do Iguaçu como sede de um dos seus quatro Centros de Treinamento de canoístas. O investimento é de R$ 3,5 milhões.
Em Foz, o espaço fica na Vila Maracanã, região central da cidade. No local, os canoístas recebem acompanhamento com profissionais de saúde e do esporte. Os atletas morarão em Foz até 2016 ou até que o canal do Rio de Janeiro fique pronto para a Olimpíada.

Durante o período em que estiverem vinculados à equipe permanente, os jovens receberão uma bolsa-auxílio complementar, repassada pelo BNDES, via Ministério do Esporte. O valor de repasse será o mesmo da bolsa-atleta do governo federal, o que significa que cada canoísta receberá, somados os dois benefícios, um mínimo R$ 1.850 – para quem tem bolsa de menor valor –, e de R$ 3.700 – para os demais Meninos do Lago. Atletas com bolsa olímpica, o que não é o caso dos Meninos do Lago convocados, recebem um valor maior.

Alguns jovens também são contemplados com o programa Talento Olímpico Paranaense 2016 (TOP 16). Neste caso, o auxílio é de R$ 500 por mês. “Esse dinheiro nos ajudará muito”, afirmou Wallan de Carvalho.

Alcance fora d’água: projeto incentiva bom desempenho escolar

Apesar do benefício econômico, a proposta do Meninos do Lago não é focada no rendimento financeiro dos atletas. “A relação entre a Federação Paranaense de Canoagem [Fepacan], os atletas e seus pais sempre foi franca no sentido de alertá-los que a prática dificilmente trará retorno pecuniário”, explicou o presidente da Fepacan, Valdecir Fernandes da Cruz.

Nas metas do projeto, ajudar os jovens a melhorar o desempenho escolar tem o mesmo peso que outros princípios, como formar uma equipe forte para os Jogos Olímpicos de 2016 e descobrir e incentivar os novos talentos da canoagem slalom.

Por isso, um dos critérios para ser aceito no Meninos do Lago é ter boas notas e bom comportamento na escola. Os boletins são avaliados pela Federação Paranaense e o estudante reprovado perde a vaga no projeto. “A perspectiva de ingressar na canoagem já melhora as notas e comportamento de muitos alunos, mesmo os problemáticos”, afirmou Pedro José de Campos Júnior, diretor do Colégio Estadual Paulo Freire, na Vila C. O bairro é vizinho da usina de Itaipu, na periferia de Foz do Iguaçu, e um dos focos do Meninos do Lago.

No Colégio Paulo Freire é comum encontrar crianças e adolescentes com uniforme do projeto. Lá, canoagem é um assunto recorrente entre alunos e professores. “Ana Paula, você ganhou tudo isso de medalhas com o Meninos do Lago? Minha irmã também!”, diz um menino à colega Ana Paula Fernandes Castro, durante uma sessão de fotos feitas pela canoísta na escola, a pedido da reportagem.

Mesmo sem participar da equipe permanente, Ana Paula é uma referência no Meninos do Lago. Vencedora da Copa Brasil de Canoagem em 2012, a canoísta é fera nos estudos. Com médias acima de 9,6, ela guarda junto suas 21 medalhas esportivas e a de segunda colocada na 16ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), no Rio de Janeiro. “Quero fazer engenharia aeroespacial no ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)]”, disse Ana.

“Eles são motivo de orgulho para nós. Vemos as transformações e conquistas desses atletas e fazemos essas histórias de exemplo para os demais”, afirmou a professora de educação física, Wanda Lúcia de Freitas.

Da casa de Ana Paula saiu outro exemplo do projeto. Sua irmã, a também canoísta Amélia Fernandes, 18 anos, foi contratada pela CBCa para ser a orientadora pedagógica do Meninos do Lago. Estudante do Curso Superior de Pedagogia, Amélia – que já representou o projeto em competições no México – vai ajudar os colegas no contraturno escolar, e acompanhar de perto o desempenho escolar. “Dedicação, estudos e organização são palavras chaves para se tornar um bom atleta, e é com isso que quero contribuir também”, afirmou Amélia.

A próxima relação das meninas com a canoagem despertou o interesse pelo esporte no irmão mais novo, Alcieris Henrique de Castro Fernandes. “Eu entrei no Meninos do Lago não para ganhar, mas para acompanhar minhas irmãs. Agora gosto muito”, disse o menino, de 11 anos.

Segundo Argos Rodrigues, superintendente da Confederação Brasileira de Canoagem, os talentos dos jovens longe dos remos são constantemente aproveitados. “Temos o Felipe Santana, que é nosso atleta e foi contratado pelo CBCa como auxiliar administrativo no Projeto BNDES. Hoje, ele recebe R$ 920 por mês”, afirma.