É cada vez mais iminente o risco de falência dos ecossitemas que garantem água potável, terra fértil e ar puro. São tantas as evidências que o jornalista André Trigueiro é taxativo: “Estamos nos dirigindo rumo ao colapso”. Trigueiro apresentou a palestra magna da abertura do Encontro Cultivando Água Boa +10, na noite dessa quinta-feira (22), no Rafain Palace Hotel, em Foz do Iguaçu.
O jornalista, que se especializou na temática da sustentabilidade e também é autor de livros sobre o assunto, abriu sua explanação citando alguns trechos da obra “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, do norte-americano Jared Diamond, vencedor do Prêmio Pulitzer.
Baseado nas mais recentes pesquisas arqueológicas, o livro traduz de forma clara como diferentes sociedades do passado desapareceram ao deixarem de ser sustentáveis. Elas teriam se apropriado dos recursos naturais em um nível acima da capacidade de suporte dos ecossistemas, algo que também se observa na sociedade atual.
Ainda a partir do livro de Jared Diamond, Trigueiro citou o exemplo dos habitantes da Ilha de Páscoa, que no passado devastaram suas florestas para transportar os moais (espécie de totens de pedra posicionados em várias partes da ilha). A partir dessa devastação, os rios secaram, as pragas afetaram a produção de alimentos e não foi mais possível pescar no mar, pois não havia como produzir canoas, entre outras consequências.
Nesse cenário de escassez, a violência eclodiu, algo parecido com o que se observou no Superdome, onde os habitantes de Nova Orleans se abrigaram do furacão Katrina. Como a estadia foi prolongada, surgiram milícias para disputar os poucos recursos. “É como diz o velho e brasileiríssimo ditado 'farinha pouca, meu pirão primeiro'. Em um cenário de escassez, não há paz possível”, afirmou o jornalista.
Trigueiro enfatizou que, a despeito do ceticismo de alguns, a mudança climática está aí. E citou como exemplo a música Águas de Março, de Tom Jobim, que em pouco tempo se tornou desatualizada. “As chuvas torrenciais não mais fecham o verão, pois as estações não são mais tão definidas como há 30 anos”, argumentou.
Porém, apesar dos dados preocupantes, Trigueiro não é pessimita e prega um uso apropriado de dois recursos naturais não renováveis (o tempo e a energia humana) para reverter esse quadro. Ele defendeu o papel do jornalismo como ferramenta de mudança, não só mostrando o lado violento e 'feio' do mundo, mas também as boas iniciativas.
E enalteceu o “casamento” entre ciência, filosofia, espiritualidade e ambientalismo, cujo padrinho é Leonardo Boff, como uma abordagem necessária para esse enfrentamento, a exemplo do que é feito na Bacia do Paraná 3. “Iniciativas como o Cultivando Água Boa precisam replicar-se de modo viral em todo o mundo”, disse o jornalista.
