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Tecnologia
Na Latinoware 2006, dois novos softwares mostram crescimento da plataforma livre
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17/11/2006

Dois softwares desenvolvidos em plataforma livre, o BROffice e o FreeRoi,  despertaram ontem, sexta-feira, a atenção dos participantes da Latinoware 2006, promovida por Itaipu e pela Companhia de Informática do Paraná (Celepar). Numa palestra do evento, encerrado ontem à noite, em Foz do Iguaçu, foi mostrado o resultado do lançamento do BROffice, versão nacional do Open Office, conjunto de programas para edição de texto, planilha, apresentação, banco de dados, desenho e edição de fórmulas matemáticas.

 

Lançada há um mês, a versão 2.04 do BROffice já ultrapassou a marca de 100 mil cópias baixadas da internet, no Brasil. O avanço dessa ferramenta, que tem contribuído para a popularização do software livre, já representa hoje 60 milhões de downloads em todo mundo. Ao todo, são 200 mil voluntários de diversos países trabalhando em seu desenvolvimento.

 

Do setor elétrico, o Free Roi

 

Outra palestra mostrou o FreeRoi. O programa de código aberto, desenvolvido pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande, aponta as vantagens ou desvantagens de se adotar software livre ou proprietário em cada setor de uma empresa.

 

Segundo Gerardo Marsol, consultor de Tecnologia da Informação da Chesf, o programa foi desenvolvido a pedido da diretoria daquela empresa, que queria um estudo profundo em relação às variáveis financeiras que envolvem o emprego de um programa de código aberto. Para isso, foram reunidos diversos modelos matemáticos em um único software, que é alimentado com uma série de variáveis, como custos de licenciamento, migração, treinamento, suporte. Também é feita uma avaliação dos riscos tecnológicos, legais, institucionais e outros.

 

A fase de pesquisa e construção do software está sendo concluída neste mês e deverá ser adotada oficialmente pela área de informática da Chesf a partir de janeiro de 2007. A iniciativa é acompanhada de perto por outras empresas do setor elétrico, como Furnas, Eletronorte e Cemig.

 

O consultor afirma que, no mercado, diminuiu a polarização entre software proprietário e livre, e as empresas estão adotando as ferramentas mais adequadas para cada situação. Nesse sentido, o FreeRoi pode auxiliar uma organização a estabelecer sua política de tecnologia da informação.

 

Câmbio automático

 

O coordenador do projeto BROffice, Roberto Figueiredo Salomon, diz que hoje a preocupação do setor que investe em soluções de escritório é desenvolver interfaces mais amigáveis, para facilitar a vida do usuário.

 

Ele comparou: “Hoje, uma pessoa que está acostumada com o Word, da Microsoft, e passa para o Writer, do Open Office, tem a mesma impressão de alguém que passa de um carro com câmbio manual para um automático”.

 

Um dos fatores que têm impulsionado o crescimento do programa é a adoção do padrão de gravação ODF (open document format), que foi transformado em norma pela ISO. Hoje, são mais de 20 softwares livres que reconhecem esse formato de arquivo de texto e a própria Microsoft contratou um grupo de desenvolvedores na França para criar um plug-in que permita a leitura desse tipo de arquivo pelo programa Word.

 

Outro impulso vem das iniciativas de inclusão digital. Atualmente, são 20 projetos em todo o país que trabalham com o BROffice e que já formaram 5 mil usuários. Além disso, o uso do programa no Brasil é estimulado por grandes clientes. Entre os principais está o Banco do Brasil, com mais de 80 mil estações de trabalho equipadas com o software. Os Correios e o Metrô de São Paulo também são exemplos de clientes de maior porte e o Exército Brasileiro acaba de anunciar que também vai equipar seus computadores com o BROffice.

 

Linux x Windows

 

Izabel Cerqueira Valverde, do projeto Gnome no Brasil, diz que hoje uma das lutas dos que defendem o software livre é disseminar desktops com software livre. “É uma questão cultural. Nos projetos de inclusão que usam o Linux, a gente percebe que as pessoas que tomam contato como computador através do software livre acham complicado mexer com o Windows”.

 

O Gnome é um projeto mundial de duas vertentes: o desenvolvimento de uma ferramenta de desktop e de uma plataforma de desenvolvimento. O projeto conta com a participação de conselheiros que representam a comunidade de desenvolvedores e também grandes empresas do setor de TI, como Sun, IBM e Novel.

 

O Gnome é presidido por David Neary, que fez a palestra de abertura do Latinoware 2006. “O software livre diz muito mais respeito a pessoas do que propriamente a software. Trata-se de uma rede mundial de especialistas trabalhando em conjunto.

 

Um evento multinacional e "libertário"

 

A 3ª Conferência Latino-Americana de Software Livre reuniu durante dois dias, em Foz do Iguaçu, cerca de 1.400 especialistas e estudantes do Brasil, Paraguai, Argentina, Chile e Venezuela. Estavam presentes, ainda, representantes e palestrantes desses países e também dos Estados Unidos,  França e Finlândia.

 

Considerado o segundo maior evento de software livre da América do Sul, durante os dois dias da Latinoware houve 80 palestras, 11 minicursos e uma exposição de projetos.

 

O objetivo do evento é mostrar os avanços do software livre no mundo e, principalmente, nas empresas governamentais envolvidas na organização. A maior parte dos programas desenvolvidos por essas empresas está disponível na internet para download e livre distribuição.

 

“O software livre é uma ferramenta que vem para democratizar o acesso ao conhecimento”, disse o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, na abertura do encontro.

 

O avanço do software livre em Itaipu

 

Entre as empresas do setor elétrico que adotaram software livre, Itaipu está entre as mais adiantadas. Com dois anos de implementação desse tipo de programa, a empresa já economizou US$ 2,1 milhões em licenças de softwares proprietários.

 

Segundo a superintendente de Informática, Marli Portela, 26 serviços da hidrelétrica funcionam com software livre. Entre eles, o controle da operação da usina, o gerenciamento de redes e de impressão, o correio eletrônico corporativo (a empresa usa o Click, desenvolvido pela Celepar), o geoprocessamento voltado à gestão ambiental de bacias hidrográficas (desenvolvido no PTI e que resultou na economia de R$ 1 milhão referente à licença de um software proprietário similar), e a segurança da barragem (ainda em desenvolvimento).

 

“Temos 70% dos nossos servidores rodando com Linux (sistema operacional que concorre com o Windows, da Microsoft)”, diz Marli.

 

Na adoção de software livre por Itaipu, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) tem desempenhado um papel fundamental. As empresas de base tecnológica estão incubadas no parque e desenvolveram soluções livres voltadas a sistemas de automação, geoprocessamento e gestão empresarial, entre outras.

 

Para o diretor do PTI, Juan Carlos Sotuyo, a principal vantagem desse tipo de sistema está no incentivo ao trabalho colaborativo e com compromisso social. “O software livre faz parte de um movimento libertário, de autonomia tecnológica”, afirmou.