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Institucional
Morre um dos "pais" de Itaipu
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27/11/2007

Morreu ontem, no Rio, aos 89 anos, o ex-chanceler Mário Gibson Alves Barbosa, um dos negociadores brasileiros responsáveis pela criação da Itaipu Binacional. Com muita habilidade, ele não só conseguiu melhorar as relações entre o Brasil e o Paraguai, em meados da década de 1960, como evitar o estremecimento das relações entre o Brasil e a Argentina, depois que já estava decidida a construção da usina de Itaipu.

 

Pernambucano de Olinda, Mário Gibson Barbosa nasceu em 13 de março de 1918. Perdeu o pai, o comerciante Oscar Bartolomeu Alves Barbosa, quando cursava o antigo ginasial, o que o levou a trabalhar para custear os estudos. Formou-se em Direito em 1937 e, dois anos depois, ingressou na carreira diplomática, após prestar concurso para o Itamaraty. Serviu como ministro conselheiro na missão brasileira junto à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, de fevereiro de 1959 a dezembro de 1960.

 

Naquele mesmo ano, chefiou a delegação brasileira à XI Sessão da Comissão de Informações sobre Territórios Não-Autônomos das Nações Unidas.

De fevereiro de 1961 a agosto do mesmo ano, durante o governo Jânio Quadros, foi chefe de gabinete do ministro das Relações Exteriores Afonso Arinos de Melo Franco. Gibson Barbosa assumiu a embaixada brasileira no Paraguai em dezembro de 1966, quando as relações entre o Brasil e o país vizinho estavam estremecidas devido ao impasse sobre os limites das cataratas de Sete Quedas. Mesmo recebido com hostilidade em Assunção, conseguiu contornar o problema e iniciou as negociações. Depois de dois meses, o impasse foi resolvido com a assinatura da Ata do Iguaçu. Sete Quedas ficava com o Brasil, mas, em compensação, os dois países poderiam aproveitar de forma igualitária a energia elétrica eventualmente produzida pelos desníveis do Rio Paraná naquele trecho.

A negociação sobre Sete Quedas com os paraguaios azedara as relações com os argentinos, para quem a construção de uma hidrelétrica brasileiro-paraguaia modificaria de tal forma o curso das águas do Rio Paraná que poderia causar enchentes e poluição na Argentina. Eles argumentavam também que o projeto entre Brasil e Paraguai rebaixaria a altura dos saltos da futura usina de Yaciretá.

Gibson Barbosa mais uma vez conseguiu superar o impasse. Negociando com o chanceler argentino Eduardo McLoughlin, em Nova York, chegou a um acordo que encerrou a polêmica sobre Itaipu.

Em 26 de abril de 1973, quando já era ministro das Relações Exteriores do presidente Emílio Garrastazu Médici, foi assinado o Tratado de Itaipu, que previa o "aproveitamento hidrelétrico dos recursos hídricos do Rio Paraná, pertencentes em condomínio aos dois Países, desde e inclusive o Salto Grande de Sete Quedas ou Salto de Guaíra até a Foz do Rio Iguaçu".

Pelo Paraguai, o negociador era o também brilhante ministro Raúl Sapena Pastor, enquanto o país vizinho era governado por Alfredo Stroessner.

Latino-americanismo

Em 1980, Mário Gibson Barbosa mostrou mais uma vez sua visão de mundo: defendeu a identidade latino-americana na luta por uma ordem mundial mais justa, durante o Simpósio Argentino-Brasileiro promovido pelo Conselho Argentino para as Relações Internacionais, em Buenos Aires.

Em 1989, assumiu a presidência da Companhia de Hotéis Palace, dona do Copacabana Palace. Três anos depois, publicou o livro "Na diplomacia, o traço todo da vida", em que conta suas memórias.

Mário Gibson Barbosa estava internado havia uma semana no Hospital Samaritano, em Botafogo. Morreu ontem à tarde no próprio hospital, de falência múltipla dos órgãos. O seu corpo será cremado hoje no Memorial do Carmo, no Caju. Ele deixa viúva Júlia Gibson Barbosa.

Resumo

Mário Gibson Alves Barbosa bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, em 1937. Dois anos depois, prestou concurso para o Itamarati, ingressando na carreira diplomática. Foi vice-cônsul do Brasil em Houston, Texas e terceiro-secretário da Embaixada brasileira em Washington (EUA); primeiro-secretário da representação brasileira em Bruxelas (Bélgica); ministro-conselheiro em Buenos Aires (Argentina) e junto à Organização das Nações Unidas (ONU); chefe-de-Gabinete do ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos de Melo Franco. Foi, ainda, embaixador do Brasil em Viena (Áustria), em Assunção (Paraguai) e em Washington, e secretário-geral de Política Exterior do Itamarati. No Governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), foi ministro das Relações Exteriores. Na sua gestão, anunciou o plano brasileiro de combate ao terrorismo no continente, mais tarde submetido à Convenção da Organização dos Estados Americanos (OEA); assinou com Portugal um acordo de reciprocidade de direitos entre brasileiros residentes naquele país e portugueses radicados no Brasil; transferiu a sede do Itamarati para Brasília; promoveu a aproximação do Brasil com os países africanos. Ao deixar o Ministério, foi embaixador do Brasil em Atenas (Grécia) e em Roma (Itália).