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Meio Ambiente
Itaipu reproduz, pela primeira vez na América do Sul, uma segunda geração de harpia em cativeiro
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10/05/2017
O Programa de Reprodução da Harpia (Harpia harpyja) de Itaipu conseguiu um feito inédito na última sexta-feira (5): o nascimento do primeiro animal cuja mãe também é nascida em cativeiro. A segunda geração criada em cativeiro é um caso raro no mundo todo – há registros apenas em zoológicos dos Estados Unidos e do Panamá. Nesta segunda-feira (8), nasceu também outro filhote, este de um casal antigo do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV).
 

Clique nas imagens para baixar as fotos em alta definição. Crédito: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional.
 
De acordo com o médico veterinário de Itaipu, Wanderlei de Moraes, o nascimento inédito mostra que o esforço na reprodução da espécie vem dando resultado. Há alguns meses, um macho de harpia nascido no RBV chegou a fecundar um ovo, mas o nascimento não foi bem-sucedido. “Isso prova que as aves nascidas aqui, em cativeiro, estão buscando a reprodução”.
 
Com os novos filhotes, somam-se 31 nascimentos de harpia no local, o que faz do Programa da Itaipu o maior do mundo. O plantel conta hoje com 29 exemplares entre jovens e adultos. Seis filhotes nascidos no RBV foram doados a outras instituições. “O foco nosso e das outras instituições que trabalham com harpia no Brasil é ampliar o número de indivíduos da espécie”, explica Wanderlei. Estima-se que existam de 120 a 140 harpias em cativeiro.
 
Família de harpias
 
A ave nascida na sexta-feira (5) é filha de uma harpia fêmea que também nasceu no Refúgio. A mãe é de 11 de agosto de 2009, fruto de uma das primeiras reproduções bem-sucedidas do programa criado naquele mesmo ano. Ela é filha do casal mais antigo do RBV, formado em 2005 e que teve os primeiros filhotes em 2009. 
 
Este casal antigo está entre as primeiras aves que chegaram à Itaipu. A fêmea, hoje com 17 anos, foi resgatada do Arco do Desmatamento, na região do Pará. O pai tem 18 anos e foi encontrado em uma caixa de papelão, na Ponte Amizade, na fronteira com o Paraguai. Desta união, resultaram 26 reproduções de sucesso, quase metade de todas as harpias nascidas em cativeiro no Brasil.
 
Em fevereiro, outras quatro aves nasceram no RBV. Dois filhotes do casal antigo e outros dois de um casal que veio do Espírito Santo, em agosto de 2013, e se reproduziu pela primeira vez no Refúgio. O casal capixaba chegou da Organização Não Governamental AMAR (Ave da Mata Atlântica Reabilitada) já em idade reprodutiva.
 
Estudo genético
 
O Projeto de Conservação da Harpia no Brasil, do qual Itaipu faz parte, vai capitanear um levantamento das origens genéticas das harpias em cativeiro. No Brasil, a ave se divide em dois grupos: um isolado, no Norte da Amazônia, e outro que vive no Sul da Amazônia e na Mata Atlântica. “Hoje, nós fazemos a reprodução, mas não sabemos a origem do animal”, resume Wanderlei.
 
Com o conhecimento sobre a origem genética das aves, será possível fazer novos pares e orientar a reprodução da espécie de acordo com seu bioma. A partir daí, em um futuro próximo, serão feitas as primeiras tentativas de soltura da harpia em ambiente natural. Para isso, as instituições que trabalham no projeto nacional também fazem estudos sobre a preservação dos locais de ocorrência da ave. “A principal ameaça à espécie é a destruição das florestas, no arco do desmatamento da Amazônia, e no avanço das cidades na Mata Atlântica”, conclui Wanderlei.
 
Reprodução da espécie
 
Desde 2009, Itaipu vem aperfeiçoando um protocolo de reprodução da espécie e que tem dado certo. O trabalho começa com os tratadores que observam o comportamento dos casais, por exemplo, se macho e fêmea estão dividindo o ninho ou vivendo separados. “Estas informações são importantes para sabermos se houve afinidade entre o casal”, explica o biólogo Marcos de Oliveira, da Itaipu.
 
 
Ao longo do ano, os tratadores fornecem galhos verdes. As harpias passam o tempo todo montando o ninho. “Os galhos também servem para os machos cortejarem as fêmeas e começarem a cópula”, acrescenta Marcos. Após a postura dos ovos, os profissionais do RBV ficam de olho no calendário. Um ovo de harpia é chocado entre 50 e 57 dias, então, após os 46 dias que ele foi colocado, o ovo é levado para uma incubadora.
 
“Isso é uma forma de otimizarmos a reprodução. Se deixarmos o ovo com os pais, corremos o risco de perdemos muitos filhotes”, complementa Wanderlei de Moraes. Quando está para nascer, a ave passa 24 horas tentando quebrar a casca do ovo e outras 24 horas para sair da posição fetal e ficar em pé, quando acontece a primeira alimentação. 
 
O filhote é alimentado cinco vezes por dia e tem a frequência de alimentação reduzida aos poucos até chegar a uma vez por dia – quando adulto, ele se alimenta uma vez a cada dois dias. O cuidado com a temperatura ambiente também é constante: na incubadora a temperatura vai sendo reduzida, enquanto a ave vai ganhando penas. Este processo dura de 15 a 20 dias, quando a ave já pode viver fora da incubadora.
 
Dos seis meses até os dois ou três anos, a ave fica no recinto das harpias para treinar a socialização. Quando ela começa a defender território, está na hora de separar e formar casais. Entre cinco e oito anos é o início da idade reprodutiva da espécie, que pode se reproduzir até os 35 anos.
 
Sobre a harpia
    
A harpia é um dos maiores, o mais pesado e o mais forte gavião do mundo. Adulto, pode alcançar dez quilos e dois metros e meio de envergadura. O talão, como é chamada a unha da ave, mede até 9 centímetros, equivalente à unha de um urso pardo.
 
 
A espécie habitava uma ampla região que ia do Sul do México ao norte da Argentina, compreendendo todo o atual território brasileiro. No entanto, o desaparecimento das florestas fez reduzir a população dessas aves – que precisam de áreas de mata contínua para sobreviver.
 
Hoje, no Brasil, a harpia só é encontrada em abundância na região do bioma amazônico, além de poucos registros no que restou da Mata Atlântica. Há poucos exemplares no Paraná, estado que tem a ave como símbolo.