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Meio Ambiente
Itaipu reforça monitoramento das espécies na Bacia do Rio Paraná
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23/01/2014

Profissionais da Divisão de Reservatório de Itaipu fizeram, na sexta-feira (17), na foz do Rio Bela Vista, próximo à barragem da usina, as primeiras expedições do ano para a captura e análise de peixes presentes na entrada do Canal da Piracema.

O trabalho, acompanhado pela bióloga de Itaipu Caroline Henn, teve dois objetivos. O primeiro é avaliar a biodiversidade do próprio canal de transposição, que conecta o Rio Paraná, abaixo da barragem, ao reservatório. Essa atividade é feita desde 2004.

A expedição também serviu para capturar espécies que são alvo da pesquisa Análise citogenética de Doradidae do Rio Paraná, que começou em outubro do ano passado. A pesquisa, que tem apoio da binacional, é coordenada pela bióloga Thais Morales, professora do curso de Ciências Biológicas da Faculdade União das Américas (Uniamérica), de Foz do Iguaçu.

Como o objetivo de ambos os trabalhos é científico, a captura é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para ser feita mesmo durante o período da piracema – de 1º de novembro a 28 de fevereiro.

A partir de março, quando a pesca for liberada, a coleta para a pesquisa citogenética também poderá ser feita em áreas do reservatório, com ajuda dos pescadores que atuam na região.

De acordo com Caroline, todo o peixe capturado é identificado e medido, para depois ser solto novamente no rio. Alguns recebem marcadores externos ou eletrônicos, para acompanhar seu deslocamento no canal e em outros trechos da Bacia do Rio Paraná.

São retidas apenas as espécies não identificadas (para a análise de biodiversidade) e aquelas que são alvo da pesquisa da Uniamérica: armadinho (Trachydoras paraguayensis), armado (Pterodoras granulosus) e armado colorido (Platydoras armatulus).

Há outras duas espécies da família Doradidae que ocorrem na região: Rhynodoras dorbignyi e Oxydoras eigenmanni. Mas elas não são consideradas para o trabalho de citogenética devido à sua raridade – em dez anos de monitoramento, cada uma foi registrada apenas uma vez no canal.

Na expedição da última sexta-feira, foi capturado um exemplar de armadinho. Quando isso acontece, o peixe é levado vivo até o laboratório da Uniamérica, para que possa ser estudado pelos pesquisadores e acadêmicos da faculdade.

Análise cromossômica

Caroline Henn explica que trabalhos citogenéticos podem determinar, por exemplo, se indivíduos aparentemente idênticos pertencem de fato à mesma espécie. “Porque há espécies que são muito similares e não podem ser distintas apenas com a observação morfológica”, disse.

Ainda segundo ela, saber se a espécie forma uma única população, ou se são populações subdivididas, é fundamental para compreender como ocorre a distribuição dos peixes ao longo da bacia e orientar medidas de preservação. “A partir desse mapeamento, você poderá determinar uma série de medidas de preservação, como delimitar áreas protegidas para reprodução, restritas à pesca.”

Inicialmente, a pesquisa em parceria com a Uniamérica deve durar no mínimo dois anos, a partir de outubro de 2013. Thais Morales explicou que o critério para escolha das espécies-alvo do projeto foi econômico, ou seja, os peixes que hoje têm maior presença no mercado e maior importância para os pescadores da região.

Ela acrescentou que esse tipo de estudo também já é exigido, por exemplo, para novos empreendimentos hidrelétricos. “Para os acadêmicos que acompanham o trabalho na faculdade, isso pode significar uma ótima oportunidade de trabalho no futuro”, disse.

Biodiversidade do canal

Com aproximadamente 10 quilômetros de extensão, o canal de transposição de peixes de Itaipu é considerado um dos maiores e mais complexos do mundo, com estrutura composta por trechos naturais de rio, lagos e canais artificiais.

Os estudos para monitorar a biodiversidade começaram apenas dois anos após a inauguração do sistema, em 2002. Em 2014, o trabalho completa uma década. São feitas capturas desde a foz do Rio Bela Vista até o reservatório, na saída do canal.

No período, segundo Caroline, já foram identificadas mais de 150 espécies que transitam pelo sistema. “O que a gente conseguiu observar é que em torno de 80% das espécies do Rio Paraná estão presentes no Canal da Piracema, utilizando o canal como rota de migração ou residindo nele”, comentou.

A cada ano, é comum uma nova espécie ser identificada no sistema. Algumas são raras. “Em 2012 , por exemplo, a novidade foi um cascudinho (Hypoptopoma inexspectatum - foto acima), que é nativo da região, mas que é muito pequeno e vive no leito rochoso do rio. Por isso, é difícil de ser capturado”, citou.

De acordo com a bióloga, a continuidade da pesquisa por longo prazo permite refinamento, melhorando a qualidade das informações. “Com esse acúmulo de dados, podemos identificar padrões biológicos das espécies, seja de comportamento, seja de fisiologia ”, disse. Com o trabalho de citogenética, também poderão ser analisados padrões evolutivos das espécies.