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Meio Ambiente
Itaipu participa de projeto inédito de reprodução da anta brasileira
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07/04/2016
Pesquisadores de Itaipu Binacional, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade e Smithsonian Conservation Biology Institute, dos Estados Unidos, participaram, nesta semana, em Foz do Iguaçu (PR) e Hernandárias (Paraguai), de uma nova etapa do projeto Avaliação Andrológica e Criopreservação de Sêmen de Anta Brasileira – Tapirus terrestris.
 
De terça (4) a quinta-feira (7) foi coletado material genético de oito animais, quatro do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), na margem brasileira da usina, e quatro no Zoológico Regional, no país vizinho. O sêmen foi retirado por meio de um procedimento chamado eletroestimulação, com o animal anestesiado, e depois congelado em nitrogênio líquido, a uma temperatura 196 graus Celsius negativos. 
 
Esta é a segunda vez que a equipe vem à região para o trabalho – a primeira foi em novembro de 2014. Coordenador do projeto, o professor Nei Moreira, do curso de Medicina Veterinária da UFPR (campus Palotina), disse que o estudo é inédito para esta espécie de anta, encontrada apenas na América do Sul. “Existem outros trabalhos publicados, mas sobre a Tapirus terrestris é o primeiro”, disse.
 
O pesquisador indiano Budhan Pukazhenthi, do Smithsonian Conservation Biology Institute, fez questão de acompanhar o trabalho pessoalmente. Ele é autor de estudos com outras espécies de antas, de outras partes do planeta, daí o interesse em conhecer o exemplar brasileiro. “Esse trabalho é muito importante. Você coleta o material genético, congela, e em 50 ou cem anos pode usar o sêmen. Eu chamo isso de uma apólice de seguro [para a espécie]”, definiu.
 
Para Itaipu, o projeto é estratégico porque garante uma reserva genética dessas populações, que estão ameaçadas de extinção, e mantém a empresa em posição de vanguarda na pesquisa científica. “É uma grande oportunidade”, disse o médico-veterinário Zalmir Cubas, da Divisão de Áreas Protegidas e um dos organizadores do Tratado de Animais Selvagens – Medicina Veterinária (Editora GEN), obra de referência do segmento.
 
Fisiologia reprodutiva
 
Segundo Nei Moreira, nos dois anos de pesquisa foi possível verificar que a fisiologia reprodutiva da anta é muito semelhante à dos cavalos. “O equino é o parente doméstico mais próximo da anta, do ponto de vista filogenético (relativo à evolução da espécie). E a gente está vendo que isso se repete com relação às características do sêmen, as características andrológicas”, relatou.
 
O próximo passo do projeto, ele acrescenta, será trabalhar com fêmeas e avançar para técnicas de reprodução mais sofisticadas, como a inseminação artificial e a fertilização in vitro. “Primeiro queremos conhecer a fisiologia reprodutiva básica do animal e também algumas biotécnicas, como o melhor protocolo para congelamento de sêmen. Depois, vamos partir para a reprodução artificial.”
 
Essa fase do projeto também interessa à Itaipu. No Refúgio Biológico, a empresa mantém um programa de reprodução em cativeiro de espécies da região, pelo método natural. Em 2011, uma fêmea anta teve filhotes gêmeos, caso raro em todo o mundo. “No futuro, poderemos utilizar outras técnicas de reprodução”, antecipou Zalmir. “Em vez de deslocar o animal, você mandaria o sêmen para a inseminação, como se faz hoje com bovinos.”
 
Sedação e coleta
 
O médico veterinário Paulo Rogério Mangini, do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação, disse que a coleta do sêmen por eletroestimulação, para que o animal possa ejacular de forma involuntária, exige um nível de sedação profundo, próximo ao da anestesia cirúrgica.
 
Segundo ele, para calcular a dose do anestésico são levados em conta o histórico do animal, peso e idade – entre outros fatores. No caso da anta, é usada uma combinação com três tipos de drogas (cetamina, detomidina e butorfanol).
 
Na tarde de terça-feira (5), para sedar um animal de 179 quilogramas, foi utilizada uma dose de 10 miligramas – aplicado com disparo de dardo. Após dez minutos, o animal estava pronto para os procedimentos de eletroestimulação, por um período de 30 minutos. “Depois disso, ainda temos mais 20 minutos com boa qualidade de anestesia para outros procedimentos, como eletrocardiograma e coleta de sangue”, por exemplo.
 
Todo o trabalho, da sedação à coleta de sêmen, foi acompanhado por estudantes da UFPR e estagiários de Itaipu. Além da coleta, a equipe aproveita para fazer uma análise do estado de saúde dos animais, como avaliações de microflora de olho e narina e exames de sangue e de fezes. “É a oportunidade para um check-up geral”, disse Zalmir.