A microcentral termelétrica a biogás do Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar Sanga Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon (PR), tornou-se na última semana a menor unidade geradora conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Microcentral Termelétrica a Biogás do Ajuricaba: autossuficiência energética.

Desde o dia 11, toda a energia produzida no local é transferida para a rede de distribuição da Copel, conforme prevê a resolução normativa 482/2012, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A estimativa é que o condomínio gere aproximadamente 800 kWh por dia, ou 24 mil kWh/mês, o suficiente para abastecer com energia elétrica 150 casas – levando em conta o consumo médio residencial brasileiro. A capacidade instalada da microcentral é de 80 kW.

O projeto começou em 2009, liderado por Itaipu Binacional – a maior geradora de energia limpa e renovável do planeta. O superintendente de Energias Renováveis, Cícero Bley Jr., diz que a experiência do Ajuricaba mostra que é possível viabilizar a produção de biogás em pequenas propriedades rurais.

Além disso, o biogás transforma um antigo e grave problema ambiental (a poluição do solo e das nascentes causada pelos dejetos da atividade agropecuária) em solução e nova fonte de renda para o pequeno agricultor.

“Podemos dizer que essa energia produzida pelos agricultores equivale a um poço de petróleo em cada propriedade”, comentou.

Compensação

O comissionamento do sistema, no dia 11, foi acompanhado foi acompanhado pelo engenheiro Maycon Georgio Vendrame, da Assessoria de Energias Renováveis (ER.GB) de Itaipu Binacional. Técnicos da Copel e da Prefeitura de Marechal Cândido Rondon, parceiras do projeto, também estavam presentes.

No caso do Ajuricaba, a energia gerada será descontada pelo valor equivalente na conta de energia dos prédios públicos da Prefeitura de Rondon – que, por sua vez, irá remunerar a Coperbiogás, cooperativa que reúne os agricultores do condomínio.

Como funciona

O condomínio tem hoje 33 pequenos produtores rurais. Em cada propriedade, dejetos da produção agropecuária (suínos e gado leiteiro) são transferidos para biodigestores, para extração do gás metano (cerca de 800 metros cúbicos por dia).

Os biodigestores estão conectados à microcentral por meio de um gasoduto de 25 quilômetros de extensão. Já a matéria orgânica residual do biodigestor pode ser transformada em biofertilizantes.

Além de gerar energia, o biogás produzido nas propriedades é usado internamente, como, por exemplo, para cozinhar ou aquecer a água que higieniza o sistema de ordenha.

Referência

O Condomínio de Agroenergia do Rio Ajuricaba deu base para outros projetos semelhantes, como nas pequenas farinheiras de Pernambuco (parceria com a Chesf), em Santa Catarina (com a Eletrosul), em Entre Rios do Oeste (PR) e no município de Toledo (PR), onde ocorre uma grande mobilização de produtores em conjunto com a prefeitura.

A proposta de gerar energia com biogás em condomínios, em que biodigestores são conectados por um gasoduto a uma só central geradora, é genuinamente brasileira. Na Europa, são feitos grandes biodigestores, altamente tecnificados, para os quais são transportados dejetos.

O Ministério de Minas e Energia, a Aneel, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) acompanham o projeto, que também vem sendo observado pela Onudi Internacional, pela FAO América Latina e Caribe, pela Organização Latino-Americana de Desenvolvimento de Energia (Olade) e por outros organismos internacionais.

O governo do Uruguai também assinou memorando de entendimento com Itaipu para instalar um condomínio semelhante no Departamento (Estado) de San Jose, próximo a Montevidéu.

O projeto tem sido apresentado em fóruns nacionais e internacionais – como na reunião do conselho consultivo do programa Energia Sustentável para Todos (SE4ALL), organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em julho deste ano.

O SE4ALL é uma iniciativa global da ONU que tem o objetivo de promover o acesso universal à energia, aumentar a eficiência energética e o uso de energias renováveis, mobilizando recursos públicos e privados.