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Meio Ambiente
Cultivando Água Boa é destaque no Dia Mundial da Água
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22/03/2007

O programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional, foi apresentado ontem, quinta-feira, como uma experiência bem-sucedida de conservação dos recursos hídricos durante o SOS H2O, evento das Nações Unidas que celebra no Brasil o Dia Mundial da Água.

 

Órgãos de governo gestores dos recursos hídricos, grandes consumidores e organizações do terceiro setor expuseram em Foz do Iguaçu os resultados e avanços de práticas voltadas à preservação da água.

 

Com um conjunto de 70 projetos e 108 ações socioambientais voltados ao desenvolvimento sustentável, o Cultivando Água Boa consiste na preservação de rios, do solo e da vida na bacia hidrográfica do Paraná III, que compreende 29 microbacias afluentes do lago da usina.

 

Para o representante da FAO, agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, José Tubino, o Cultivando Água Boa é uma revolução para a bacia hidrográfica do Paraná III. “O programa funciona democraticamente pois ouve os anseios das pessoas e, assim, consegue obter resultados com mais rapidez.  Quem ganha com isso é o meio ambiente”, afirmou Tubino.

 

A área de atuação do programa abrange 28 cidades da região Oeste do Paraná e o município de Mundo Novo (MS). Sua metodologia está baseada no PDCA (sigla em inglês que corresponde a planejar, fazer, checar e agir), e envolve parceiros locais, dentro do conceito de co-responsabilidade.

 

“O Cultivando Água Boa é a construção de um novo jeito de ser, de viver e de consumir, dentro de uma visão holística de mundo”, disse o diretor de Coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich.

 

Segundo Nelton, o Cultivando Água Boa tem três grandes eixos: água e solo, biodiversidade e educação ambiental. “Para que tenhamos água de boa qualidade e que atenda aos vários usos do reservatório, temos de atacar diferentes frentes”, afirmou.

 

No primeiro eixo, o objetivo é eliminar os pontos de poluição, especialmente os efluentes das atividades produtivas, como as pecuárias bovina e suína, a criação de aves, a produção de peixes e a agroindústria, além da contaminação resultante da presença humana (lixo e esgoto).

 

Vale lembrar que a região em que se situa o reservatório da usina concentra boa parte da produção agropecuária paranaense, principalmente a bovinocultura de leite, a suinocultura e a avicultura. Responde, por exemplo, por quase a metade da produção de suínos do estado.

 

Já o eixo da biodiversidade abrange projetos voltados à preservação da fauna e da flora, como o Canal da Piracema, os Corredores de Biodiversidade, o monitoramento de espécies ameaçadas de extinção e de áreas protegidas, e também as ações desenvolvidas no Refúgio Biológico Bela Vista, que abriga um dos mais bem equipados hospital veterinário do país.

 

O eixo da educação ambiental é transversal. Permeia todas as ações da Itaipu voltadas ao meio ambiente. O Cultivando Água Boa inclui diversos projetos voltados à qualidade de vida na região, com apoio a segmentos econômicos considerados críticos, como comunidades de pescadores, indígenas e de assentamentos, pessoas que sobrevivem da pesca, da coleta de lixo e da agricultura familiar.

 

Para que cada uma dessas ações se perpetue, é necessário conscientização. “O programa, como um todo, implica em uma mudança cultural, na maneira de ser, agir, produzir e consumir. Por isso o eixo da educação ambiental é fundamental”, afirmou Jair Kotz, superintendente de Meio Ambiente de Itaipu.

 

Microbacias

 

Antes da criação do Cultivando Água Boa, o gerenciamento ambiental era geopolítico, ou seja, por municípios. O programa introduziu a gestão por microbacias, compreendendo os afluentes e subafluentes do Paraná desde suas nascentes.

 

Para cobrir cada uma delas, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) desenvolveu um software livre de geoprocessamento. Os técnicos alimentam o programa com os dados e obtêm um mosaico da situação dos rios, incluindo um diagnóstico da situação das propriedades rurais (se foi respeitada a área de reserva legal e mata ciliar, por exemplo).

 

A comunidade também é uma fonte importante de informações sobre o que precisa ser feito. Essas informações são transmitidas por meio das “Oficinas de Futuro”, promovidas pela equipe ligada à educação ambiental.

 

Com o relatório completo, o próximo passo é lançar mão de ações específicas, para cada rio e cada propriedade. O projeto envolve acadêmicos de nove instituições de ensino, entre elas a Unioeste, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná e a Pontifícia Universidade Católica (PUC).

 

“É um processo tecnicamente completo”, disse Adair Antonio Berté, um dos gestores do programa. “Queremos chegar a 58 bacias até o final de 2007”, acrescentou.

 

Associado ao processo de limpeza dos rios, está um projeto de produção de energia a partir da biomassa, que conta com o aporte de R$ 1 milhão da Eletrobrás. Como a região é forte produtora de suínos e de aves, a idéia é utilizar os resíduos dessas culturas na geração de eletricidade.

 

Somente a suinocultura tem potencial para gerar 36 MW, o equivalente a uma pequena central hidrelétrica. A energia será utilizada no abastecimento das cerca de 5 mil propriedades do local e os produtores poderão, ainda, comercializar o excedente, vendendo energia para o sistema elétrico. A Itaipu investiu US$ 110 mil na parte tecnológica do projeto, que tem um software livre como plataforma.

 

“A biomassa é a energia solar fixada nos vegetais. Para um país tropical é um diferencial competitivo muito grande explorar essa matriz”, afirmou Cícero Bley, assessor da diretoria da Itaipu para projetos especiais.

 

Agricultura

 

Além do processo de limpeza dos rios, a Itaipu disponibilizou um corpo técnico de alto nível, que presta assistência para a diversificação de culturas, adoção de técnicas como o plantio direto, do cultivo orgânico e de plantas medicinais, terraceamento, readequação de estradas e das instalações nas propriedades agropecuárias.

 

O projeto tem convênios com diversas organizações de pesquisa e de ensino, como o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Embrapa, Unioeste e Cefet, e atua na capacitação de técnicos e de agricultores, através de palestras, cursos, workshops e dias de campo.

 

As técnicas incluem, por exemplo, o controle biológico de pragas, já que o uso de pesticidas é um dos principais contaminadores da água, solo e, inclusive, dos próprios agricultores e consumidores.

 

“É um projeto plural, que trabalha com várias linhas da agricultura ambientalmente correta e tem o objetivo de promover a autonomia dos produtores, que não precisam mais depender de insumos industrializados”, explicou João José Passini, gestor do programa Agropecuária Sustentável.

 

Atualmente, 700 agricultores da região estão trabalhando com técnicas orgânicas, o que equivale a 3% do total de produtores.