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Meio Ambiente
Cultivando Água Boa amplia resultados positivos
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23/11/2007

O programa Cultivando Água Boa, que tem a Itaipu Binacional como instituição-âncora e é executado por 1.700 organizações (governamentais, ONGs, prefeituras, instituições de ensino, associações comunitárias e empresas) na Região Oeste do Paraná, comemora a ampliação de seus resultados em 2007. O programa está sendo avaliado em seu quarto encontro anual, que se encerrou ontem, sexta-feira, no Centro de Convenções de Foz do Iguaçu. Participam cerca de 3 mil pessoas. As atividades ainda prosseguem neste sábado, com a Conferência Regional do Meio Ambiente e com a VI Feira Orgânica. 

 

Um dos principais resultados alcançados no ano está na abrangência do programa, que, ao final de 2006 atendia 29 microbacias que fazem parte da Bacia do Paraná 3 (que corresponde aos afluentes do Paraná na região do reservatório da hidrelétrica).

 

Hoje são 59 microbacias que contam com ações para zerar o passivo ambiental. Como se trata de uma área de forte produção agropecuária no estado (principalmente suinocultura e pecuária de leite), grande parte dos projetos se concentra em promover ajustes nas propriedades rurais para impedir a poluição dos rios.

 

Um dos principais resultados alcançados no ano está na abrangência do programa, que, ao final de 2006 atendia 29 microbacias que fazem parte da Bacia do Paraná 3 (que corresponde aos afluentes do Paraná na região do reservatório da hidrelétrica). Hoje são 59 microbacias que contam com ações para zerar o passivo ambiental. Como se trata de uma área de forte produção agropecuária no estado (principalmente suinocultura e pecuária de leite), grande parte dos projetos se concentra em promover ajustes nas propriedades rurais para impedir a poluição dos rios.

 

Para o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, o sucesso da empreitada reside justamente no grande número de parcerias. “Somente assim para tocar projetos como o de geração distribuída, que permite a criadores de porcos, por exemplo, utilizar os dejetos da suinocultura para produzir eletricidade. No lugar de poluir os rios, os produtores ganham independência energética”, afirma o diretor, citando um projeto que está em fase de implantação e é realizado em parceria com a Copel e a Eletrobrás.

 

Em 2007, o Cultivando Água Boa atingiu a marca de 253 quilômetros de estradas rurais readequadas desde o início do programa, em 2003. Essa readequação não significa apenas tornar a via mais transitável. A instalação de passadores (uma espécie de quebra-molas ampliado) evita que a água da chuva corra no sentido da estrada. E o caimento nas laterais faz com que toda a água vá para a lavoura. Quando as estradas não estão adequadas e chove, além da erosão do solo, os rios ficam cheios de terra e de defensivos agrícolas.

 

Para proteger o curso dos rios, a programa promove a recomposição da mata ciliar e a construção de cercas de proteção, para que o gado não avance até as margens. De 2003 a 2007 foram plantados 2 milhões de árvores e construídos 400 quilômetros de cercas (40% apenas neste ano). As ações voltadas à produção rural passam ainda pela assistência técnica gratuita para a conservação de solos (2.880 hectares até o momento), a instalação de abastecedouros comunitários (58 desde o início do programa, dos quais uma parte foi adotada para o abastecimento público), e a correta destinação de 443 toneladas de embalagens de agrotóxicos.

 


Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu
Além da dimensão quantitativa, os resultados têm também um aspecto qualitativo, que se mede na nova forma das pessoas se relacionarem entre si e com a natureza. Isso faz com que o Cultivando Água Boa seja mais que um programa, um verdadeiro movimento”, afirma o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich.

 

O trabalho de readequação das propriedades rurais começa com a visita de alunos das universidades parceiras, que, sob a orientação de professores, fazem um diagnóstico preliminar dos passivos ambientais. Até novembro, 3.005 propriedades tiveram seus projetos de controle ambiental elaborados gratuitamente. Outros 3 mil deverão ser elaborados no ano que vem. Com esse projeto em mãos, o produtor pode fazer o licenciamento ambiental junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que estipula um prazo para que ele recupere seus passivos. “O prazo que o produtor tem para resolver os problemas depende do tipo da ação necessária. Se é uma questão de reserva legal ou recomposição da mata ciliar, é simples. Mas se precisa relocar uma pocilga, que é mais complexo, então ele ganha mais tempo”, explica o chefe regional da Secretaria do Meio Ambiente, Adir Airton Parizotto.

 

Segundo ele, a metodologia adotada na Bacia do Paraná 3 é diferente de tudo o que é praticado no restante do estado. Isso vem permitindo um avanço nas questões ambientais a uma velocidade superior ao que ocorre em outras regiões. O governo paranaense, por exemplo, estabeleceu o plantio de 90 milhões de mudas para recomposição da mata ciliar em todo o Paraná. Na BP3, a meta local foi ultrapassada em 30% graças à contribuição do Água Boa. “Outro diferencial está na educação ambiental que, com o programa, foi reforçada. São cursos de longa duração, como o FEA, que tem 800 horas/aula e formou 250 educadores, além de outros de menor duração, voltados, por exemplo, a professores da rede pública de ensino”, lembra Parizotto.

 

Uma contribuição importante do Cultivando Água Boa para a consciência ecológica da região está no tratamento dado ao lixo. A separação de recicláveis dos orgânicos quase não existia. A reciclagem na BP3 passou de 140 mil toneladas por dia, em 2003, para mais de 600 mil hoje. Através do projeto Coleta Solidária, a Itaipu ajudou os catadores a organizar cooperativas e, assim, a melhorar seus ganhos mensais. “Muitas prefeituras não tinham condições de implantar coleta seletiva, mas com o programa as cooperativas recebem macacões, carrinhos e todo apoio para a organização da atividade. Só com o esforço do estado, o avanço seria bem mais lento”, completa Parizotto.

 

Outro indicador da evolução do programa está na prática da agricultura orgânica, que hoje reúne 800 produtores da região. Através de programas educacionais e de apoio à comercialização, eles têm canais de venda em feiras e junto a prefeituras, para utilização na merenda escolar. O  agricultor Luiz Antônio Arruda, de São Miguel do Iguaçu, por exemplo, fez a conversão de sua propriedade para a agricultura orgânica por que já não suportava mais mexer com agroquímicos.  Além da questão de saúde, ele enfrentava dificuldades para se manter com a agricultura convencional, principalmente pela dependência de insumos.

 

Hoje, Arruda trabalha com pepino, café, acerola, goiaba e abacaxi, entre outros produtos, que são certificados pela Rede Ecovida. A orientação técnica que ele recebe do pessoal do Cultivando Água Boa permitiu incrementar o negócio com um pouco de industrialização dos produtos e a renda praticamente triplicou. E o conceito de propriedade ecológica lhe permitiu abrir uma nova frente de negócios: o turismo rural. “A qualidade de vida que a gente tem hoje em dia eu não troco por nada”, garante.

 

Para o gerente executivo do programa, Odacir Fiorentin, 2007 foi o ano de consolidação da metodologia do Cultivando Água Boa na Bacia do Paraná 3. A idéia é que os municípios e as comunidades assumam o compromisso de cuidar do meio ambiente, para que as ações se sustentem no longo prazo, independentemente da participação da Itaipu. “Prova desse comprometimento é que algumas prefeituras assinaram convênios para zerar os passivos ambientais em 100% das microbacias”, afirma.

 

A metodologia passa pela seleção das microbacias, a sensibilização da comunidade, formação do Comitê da Microbacia, ações de educação ambiental, estabelecimento de convênios com parceiros e busca de apoio financeiro para que estabelecimentos rurais e comerciais e industriais possam reduzir seus passivos ambientais. A comunidade ainda expressa seu comprometimento com o Pacto das Águas e a Agenda 21 do Pedaço. 

 

Entre os municípios que se comprometeram a zerar 100% de seus passivos ambientais estão Itaipulândia, Santa Terezinha de Itaipu, Pato Bragado e Entre Rios do Oeste. Itaipulândia, um dos que estão mais adiantados no processo, deverá encerrar 2008 como um modelo de gestão ambiental, com todas as suas propriedades rurais trabalhando sem gerar danos ao meio ambiente.

 

Outro caso de sucesso é o do município de Mercedes, onde a fonte de abastecimento de água estava prestes a sofrer um colapso. Técnicos do programa estimavam que o fornecimento duraria, no máximo, mais um ano. O Comitê da Microbacia negociou com as indústrias locais, que estavam poluindo o manancial, e as convenceu a tratar seus efluentes. Após o processo, projeta-se que o abastecimento da cidade esteja assegurado por mais 20 anos.

 

Para dar conta das atividades em 59 microbacias da Região Oeste, Itaipu modificou sua forma de atuação no campo ambiental. O orçamento anual da Diretoria de Coordenação e Meio Ambiente, que sempre foi de US$ 8 milhões, foi multiplicado por três, da seguinte forma: a binacional entra com 33% do investimento, o município com outros 33% e o terço restante cabe aos agricultores e demais atores da comunidade. “Um fator muito positivo no Água Boa é que o programa não atende somente aos municípios que estão nas margens do reservatório, mas chega até as cabeceiras dos afluentes”, conta Rogério Felini Pasquetti, prefeito de Céu Azul, município onde o Água Boa viabilizou a implantação da rede de coleta de esgoto. “Aliando a agricultura às técnicas conservacionistas, estamos garantindo um futuro com água limpa e sustentabilidade”.

 

Com a filosofia de que para amar é preciso conhecer, o programa distribui mapas hídricos aos alunos da rede de ensino, com o nome de todas as nascentes, córregos e rios, e promove visitas a esses locais. Quando uma nascente não tem nome, são feitas campanhas para que sejam batizadas. Trabalhando dessa forma ao longo de mais de quatro anos de ações, o programa tem produzido situações inusitadas, como a união de evangélicos e católicos em torno da Campanha da Fraternidade (Água Fonte de Vida). “A questão ambiental transcende credos, classes sociais, gênero. É uma questão de todos”, ensina Fiorentin.

 

O Cultivando Água Boa, reconhecido como a iniciativa ambiental mais completa do setor elétrico brasileiro e premiado internacionalmente com a Carta da Terra, da Unesco, é composto de 70 projetos e 96 ações que abrangem desde a recuperação de microbacias, passando pela proteção das matas e da biodiversidade, e pela promoção da educação ambiental nas comunidades do entorno. 

 

Um dos projetos se converteu em referência para a construção de hidrelétricas no Brasil. É o Canal da Piracema, que têm 10 quilômetros de extensão e liga a parte do Rio Paraná localizada abaixo da barragem ao reservatório da usina. A obra permite que peixes migratórios vençam o desnível de 120 metros entre as duas partes do rio, contribuindo para a diversidade e melhoria genética da ictiofauna. 

 

Outro destaque está no campo da recuperação florestal. Ao longo de sua história, a Itaipu plantou 44 milhões de árvores nas margens brasileira e paraguaia. Os viveiros da binacional respondem pela produção anual de cerca de um milhão de mudas que são plantadas nos corredores de biodiversidade (matas que interligam áreas de proteção ambiental) e nas matas ciliares das microbacias da região. Ao todo, a binacional preserva 108 mil hectares de florestas em sua área de influência, divididos em Reservas, Refúgios Biológicos e Faixa de Proteção do Reservatório.