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Aos 77 anos, morre Edésio Passos, diretor administrativo de Itaipu
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09/08/2016

O diretor administrativo da Itaipu Binacional, Edésio Passos, morreu na manhã desta terça-feira (9), aos 77 anos de idade, vítima de ataque cardíaco, em Florianópolis (SC). Passos, que começou sua carreira na Itaipu como conselheiro, exercia a atual função desde 2005. Foi um dos mais importantes advogados trabalhistas do Brasil.

Ele deixa a mulher, Cleoci, e quatro filhos: Ana Beatriz, André, Estevão e Valquíria. O velório será nesta quarta-feira (10), das 8h às 15h, na sala Esmeralda da Capela Vaticano, em Curitiba (Rua Desembargador Hugo Simas, 26 – Bairro São Francisco).

Em seguida, o corpo será trasladado para o crematório de Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba.

Edésio Passos (1939-2016): um combatente incansável

Mesmo bastante doente nos últimos meses, Edésio Passos conduzia sua vida com o espírito combativo de sempre. Só pediu licença médica para cuidar da saúde há pouco tempo, já quase sem condições para atuar. Na Itaipu, era um agregador. Foi assim que entrou e deixa seu legado na empresa onde conviveu desde 2003, primeiro como conselheiro administrativo, e depois, a partir de 8 de agosto de 2005, como diretor administrativo.

Com um currículo invejável no Direito, jornalismo e sindicalismo, onde atuou como um dos maiores nomes da advocacia em defesa do trabalhador, teve entre suas principais marcas, na Itaipu, a articulação para a implantação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). “Se hoje a Unila é uma realidade, Edésio foi muito importante nesse processo, pois abriu as portas da Itaipu para que pudéssemos discutir o projeto e os propósitos da universidade”, disse Carlos Antunes, que foi reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) entre 1998 e 2002 e morreu em 2013. Passos também ajudou para que Itaipu cedesse a área para o campus do IFPR em Foz do Iguaçu.

Para que aceitasse compor o Conselho de Administração de Itaipu, o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek, precisou ser bastante insistente. Afinal, Edésio só havia “atuado do outro lado do balcão”, isto é, ao lado dos trabalhadores, a quem sempre representou na Justiça.

Na época, ele disse: “Tenho muito que fazer, meu escritório, meus clientes e os sindicatos”. Samek devolveu: “Dr. Edésio, está na hora de também dar sua colaboração para o conjunto do País. As suas ideias, o seu trabalho são essenciais e temos uma grande relação a ser feita com o nosso próprio sindicato, lá da Itaipu, e os vários sindicatos que compõem essa relação. É importante sua presença, sua experiência, seu acúmulo”.

Com o convite aceito, dois anos e meio depois Edésio Passos seria chamado para assumir o posto de diretor administrativo. O nome dele foi uma unanimidade.

“Ele é um agregador, fez uma revolução do ponto de vista da atuação capital-trabalho, das relações de trabalho, criou um ambiente extraordinário interno na empresa. Este trabalho fantástico, realizado com nossos sócios-irmãos paraguaios, tudo isso tem a marca digital, a impressão digital, a presença de Edésio Passos”, disse o diretor-geral brasileiro em depoimento ao livro Edésio Passos, 50 anos de advocacia. Com bom humor, relata ainda a obra, Edésio lembrou que teve que prestar contas por ter “mudado de lado”. Mas isso não foi um problema, pois, como ele próprio se definia, "sou igual, fraterno e solidário".

Uma vida em defesa da democracia e da liberdade

A vida de Edésio Passos foi marcada pela luta em defesa da liberdade e da democracia no Brasil. Nasceu em Tomazina, no interior do Paraná, em abril de 1939, e desde jovem sonhava em ser advogado.

Ingressou na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1957, mas, antes de se formar em Direito, atuou como jornalista na capital paranaense. “Eu era repórter. Tinha que estar na rua, vivendo com o povo, e isto foi extremamente importante”, definiu, em depoimento ao livro Edésio Passos, 50 anos de advocacia.

Biografia publicada no site da FGV relata que Edésio ajudou na consolidação do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, fazendo parte da diretoria eleita em 1961 – no mesmo ano em que concluiu o curso de Direito.

Com a queda do governo João Goulart, em 1964, passou a atuar na resistência ao regime militar. Participou dos grupos Ação Popular (AP) e Ação Popular Marxista-Leninista. De 1971 a 1974, foi preso três vezes, torturado e perseguido. Em 1978, voltou a ser preso, desta vez acusado de promover atividades políticas na Escola Oficina, de Curitiba.

Um ano depois, Edésio Passos fundou a Associação dos Advogados Trabalhistas do Brasil. No ano seguinte, ajudou na fundação do PT e foi secretário-geral do partido no Paraná até 1982. No mesmo ano, foi o primeiro candidato a governador do partido no Estado.

Também disputou a prefeitura de Curitiba, em 1985, e uma vaga na Câmara dos Deputados, em 1986. Prestou assessoria jurídica a federações e sindicatos de trabalhadores. Foi ainda assessor técnico do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Em 1988, foi o fundador e presidente do Sindicato dos Advogados do Paraná, atuando ainda como advogado de entidades sindicais do Paraná e de Santa Catarina e como assessor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Dois anos depois, em 1990, foi eleito deputado federal e integrou na Câmara a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. Participou de debates importantes em Brasília, atuando como vice-líder da bancada do partido em 1993 e representante na Comissão Parlamentar do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

A partir de 1995, exerceu a advocacia trabalhista no Paraná e prestou consultoria para vários sindicatos. Também lançou obras relacionadas ao Direito Trabalhista. Em 1998, uma lei estadual reconheceu que fora preso ilegalmente na década anterior pelo regime militar. Em 2002, um ano antes de ser convidado para o Conselho de Itaipu, Edésio Passos concorreu a uma vaga no Senado. Não se elegeu, mas obteve quase 1 milhão de votos no Estado.

Em 2012, ao completar meio século de carreira como advogado, amigos e familiares lançaram o livro Edésio Passos, 50 anos de advocacia, com a história e depoimento de várias personalidades políticas e do meio acadêmico brasileiro.

“O que mais me orgulha, nesses anos todos, é saber que pude construir uma vida melhor para os trabalhadores e que ajudei a criar homens donos de suas vidas. O que passei foi pouco perto do que vi muitos amigos sofrerem, e se há algum arrependimento, é o de não ter feito ainda mais”, disse Edésio, no lançamento do livro em sua homenagem.

Diretores lamentam morte de colega

“O maestro morreu, mas não a sua obra. Edésio Passos deixou uma legião de seguidores, pessoas em busca de construir um mundo melhor a partir do seu legado.”

Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu.

“Na minha juventude, quando ainda iniciava os estudos na área jurídica, ele já era uma lenda, um verdadeiro ícone do Direito paranaense, principalmente pela reserva moral que sempre representou para todos nós. Vinte anos depois tive o prazer não só de trabalhar com ele, mas também de me tornar seu amigo e de confirmar tudo aquilo que dele ouvia falar, desde a época de estudante.”

Cezar Eduardo Ziliotto, diretor jurídico

“Durante este período bastante curto em que convivemos na diretoria da Itaipu [dois anos e meio], vi nele uma pessoa muito admirável, não só pela capacidade administrativa, mas também pela sua história de vida, que, sem dúvidas, representou uma valiosa experiência e o ajudou a conduzir seu trabalho na empresa. O via como uma pessoa diferenciada. Estamos sentidos pela sua morte, mas cientes de que deixou a sua marca por onde passou. Na Itaipu não foi diferente.”

Airton Dipp, diretor técnico executivo

“O Edésio foi uma referência para a minha geração, no Paraná. Em minha época de estudante, bebíamos conhecimento em discussões ou palestras que ele proferia. Ele era respeitado – mesmo por aqueles que não concordavam com suas ideias – por sua retidão, coragem, transparência e autenticidade. Não tergiversava. Ele cresceu, sob todos os aspectos, como profissional, líder político, líder de categoria e até como escritor, sempre na luta pelos mais injustiçados e oprimidos. Por isso se transformou em um dos principais advogados trabalhistas do Brasil e um defensor dos direitos humanos como poucos. Deixa uma lacuna impossível de ser preenchida.”

Nelton Friedrich, diretor de Coordenação da Itaipu

“Dr. Edésio foi um homem admirável pela sua trajetória e luta pelo Brasil. Sinto-me privilegiada por ter trabalhado com ele e por tê-lo conhecido como gestor de pessoas, que, com maestria, conseguia conciliar o lado da empresa com o do trabalhador e nos ensinou muito, fazendo com que as relações dos trabalhadores e da empresa, na Itaipu, evoluíssem e atendessem aos interesses comuns. Enfim, posso dizer que a contribuição dele foi relevante para a sociedade brasileira, do protagonismo com os trabalhadores ao protagonista nas relações do trabalho, numa empresa binacional.”

Margaret Groff, diretora financeira executiva

“O Sindicato dos Eletricitários de Foz manifesta profundo pesar pela morte do Dr. Edésio Passos. Sua passagem pelo mundo ficará eternizada no coração daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, por sua dedicação, talento, determinação, ética, credibilidade e coragem.”

Assis Paulo Sepp, diretor presidente do Sindicato dos Eletricitários de Foz do Iguaçu (Sinefi)